segunda-feira, 15 de abril de 2013

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL - A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA NA BAHIA

Nosso processo de independência nasceu, não de um projeto de nação propriamente, e muito menos de uma mobilização popular, coisa pouco provável dentro daquela estrutura profundamente desigual do Reino Unido do Brasil.
O contexto que envolve a Independência conta com algumas situações conjunturais que levaram progressivamente ao enfrentamento entre brasileiros e portugueses.
Inicialmente, precisamos considerar que, a ideia de Independência não era nem de perto um consenso mesmos entre os brasileiros. Parte considerável dos brasileiros, direta ou indiretamente envolvidos em atividades econômicas de exportação - dentro da tradição aqui construída desde o início da colonização, eram favoráveis à manutenção dos vínculos com Portugal, em termos mais adequados ao Brasil.
Este, inclusive, era o projeto pessoal de Dom João VI: o "Império Atlântico", a inserção definitiva do Brasil na vida de Portugal, como Reino Unido. Esta foi sua intenção durante o período em que aqui esteve, entre 1808 e 1821.
Dom João construiu, no Rio de Janeiro, uma cidade "européia", com equipamentos e instituições negadas a uma colônia portuguesa, como tribunais, escolas superiores, fábrica de pólvora, instituições de pesquisa, instituições financeiras, portos abertos ao comércio com qualquer país com os quais Portugal mantinha relações naquele momento (claro, privilegiando os ingleses, que tiveram papel importante tanto na proteção à família real, quanto da desocupação de Portugal pelas tropas francesas), como atestam os Tratados de Amizade, Navegação e Comércio.
Essa nova situação, ratificada pela elevação do Brasil à condição de Reino Unido, em 1815, útil também para que D. João VI não deixasse o Brasil para assumir o trono português após o Congresso de Viena, entretanto, não mudava as condições em que a maioria da população vivia e muito menos mudava o quadro de divisão política: alguns em busca de mudanças profundas, alguns em busca de independência, alguns em busca de mudanças em Portugal que favorecessem o Brasil ou ampliassem a participação política, especialmente das elites econômicas, já que Portugal era ainda um país absolutista. Em Portugal, a situação política era ainda mais complexa: além das lutas por maior participação política, havia insatisfação com a autonomia do Brasil, considerada pela maioria como prejudicial ao país, e insatisfação com um rei que governava do Brasil, que parecia "recusar" a volta a Portugal, e que deixava seu próprio país sendo governado, literalmente, pelos ingleses.
O fato é que toda essa gama de interesses políticos e econômicos diversos explode e se precipita em 1820-1821, com a Revolução Liberal do Porto.
O que aconteceu é que D.João não teve mais como evitar sua volta a Portugal. O movimento colocava as cortes provisoriamente no poder, até que um parlamento assumisse definitivamente, e limitava os poderes do rei com a elaboração de uma Constituição.
D, Pedro, príncipe herdeiro é agora também príncipe regente do Brasil. Aqui, há duas reações: parte do grande número de portugueses que aqui residiam e/ou prestavam serviços (funcionários públicos e militares, por exemplo) defendia a permanência no poder de D.João com poderes totais, mas a maioria apoiava o movimento liberal do Porto.
O mais interessante é que os brasileiros, em grande parte, também defendiam e apoiavam o movimento liberal do Porto, visto por eles como um momento importante para construir uma nova estrutura política, com representação brasileira no futuro parlamento português, defendendo mais de perto nossos interesses. Acreditavam que o fim do absolutismo era benéfico também para o Brasil. Estes, inclusive, não reconheciam também o poder político do príncipe regente D. Pedro.
O príncipe regente tentava navegar nessas águas de forma diplomática, ao mesmo tempo evitando confrontos com brasileiros e portugueses, e procurando afirmar e garantir seu poder político sobre o Brasil.
Tudo muda, entretanto, quando a política das cortes portuguesas se mostra amplamente desfavorável ao Brasil: a "recolonização", o fechamento dos portos, o restabelecimento do exclusivo comercial português.
Os que apoiaram os liberais do Porto, agora se revoltavam contra estes. E é nesse momento que o príncipe regente surge como a opção da maioria dos brasileiros.
D. Pedro, em sua luta para manter o poder sobre o Brasil, contava agora com apoio maciço das elites econômicas brasileiras, contrárias à recolonização. Em Portugal, agrupados em torno do irmão mais novo de D. Pedro, D. Miguel, os conservadores também lutavam contra os liberais.
A queda de braço entre Portugal e o príncipe regente começava com o "Dia do Fico", em janeiro de 1822, e vai se agravando até a impossibilidade de negociação entre ambos, em setembro.
A partir da "Proclamação", em setembro de 1822, partimos para o enfrentamento, entre os que defendiam os interesses do governo português e os que defendiam uma independência liderada por um príncipe português ´desde já, portanto, uma independência de "pé quebrado", já que excluía qualquer outro projeto que implicasse mudanças mais significativas para o Brasil e a esmagadora maioria dos brasileiros.
A forte e violenta reação dos portugueses em algumas províncias brasileiras, como na Bahia, no Maranhão, no Grão-Pará e até mesmo no Rio de Janeiro, fez com que o príncipe regente contratasse mercenários para lutar pela independência: franceses, ingleses e até mesmo portugueses que optaram por seu liderança.
Nesta circunstância, é que se destaca, por exemplo, o processo de Independência na Bahia. Os portugueses fiéis ao governo da Revolução do Porto, ocupam a cidade de Salvador. Travam uma guerra de perseguição e violência desmedida contra os habitantes da cidade, fosse quem fosse, vistos como "traidores".
É, literalmente, um conflito de independência: brasileiros contra portugueses. E essa luta ganha, por isso, inusitados contornos populares.
Caboclos, escravos libertos, quilombolas, populares de um modo geral, somam-se às tropas milicianas, aos mercenários enviados por D.Pedro, e travam uma luta, muitas vezes cotidiana e com perfil de guerrilha, contra os portugueses que se veem sitiados em Salvador. Na terra, pelos brasileiros que controlavam a estrada dos bois, em Pirajá, principal acesso à cidade, e no mar pelos navios enviados pelo príncipe regente e por um frota voluntária de barcos pesqueiros e outras embarcações dos locais, que cooperavam para impedir o acesso de reforços e alimentos à cidade, ocupada pelos portugueses
Em diversas batalhas regulares e em escaramuças por toda a cidade, com destaque para o movimento do "Mata-Maroto" (maroto = marinheiros, como eram chamados os portugueses), para a participação intensa da população, inclusive de mulheres, como Maria Quitéria, os brasileiros resistem, acuam e minam as forças portuguesas que finalmente acabam por se retirarem no dia 02 de julho de 1823, data até hoje muito comemorada na Bahia.
Toda essa história, em muito desconhecida dos brasileiros, faz da Bahia um dos poucos exemplos da luta por uma independência de fato; faz da Bahia um berço de um sentimento genuíno de brasilidade (ou de baianidade), de identidade entre a população e sua pátria - seja a cidade, seja a Bahia, seja o país que nascia.
Desfiles e comemorações de grande apelo popular, até hoje marcam o 02 de julho na Bahia, em contraponto com comemorações mornas ou meramente político-militares na maior parte do Brasil.
Fique com um pouco dessa importante história, através deste vídeo que postamos a seguir, como reflexão sobre esse importante momento da nossa história. Muitos por personagens importantes são aqui citados, como o corneteiro Lopes que mudou a história da batalha de Pirajá ao tocar o toque de "avançar" no lugar de "recuar"; Maria Quitéria, a mulher que fingiu ser homem para lutar pelos brasileiros; Joana Angélica, a madre que foi morta pelos portugueses, os generais, envolvidos, o clima na cidade... Divirtam-se e pesquisem mais sobre o tema



Outro bom documentário vc pode encontrar aqui:

http://www.irdeb.ba.gov.br/tve/catalogo/media/view/2121




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