DICAS DE LEITURA



O anti-semitismo na Era Vargas


Quem ainda tiver dúvidas sobre a verdadeira natureza do regime político brasileiro entre as décadas de 30 e 40, neste mês em que se comemora o aniversário da morte de Getúlio Vargas, deveria ler a obra da Professora Maria Luiza Tucci Carneiro cujo título é O anti-semitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração (1930-1945).
Trata-se de uma obra extraordinariamente bem documentada. Além de publicações da época, a autora buscou os arquivos oficiais, especialmente o do Itamaraty. Surgiram documentos de toda a espécie indicando um forte anti-semitismo entre várias figuras de proa do governo Vargas. Assim, toma-se conhecimento de que foram expedidos até decretos secretos limitando a concessão de vistos para judeus. Há instruções enviadas para diplomatas brasileiros sobre como reconhecer judeus, no melhor estilo da Alemanha nazista. O livro reproduz até uma lacônica carta, escrita pelo Chanceler Oswaldo Aranha para a sua mãe, negando um pedido: Recebi o seu cartão, acompanhado da carta da Senhora Cora Meyer. Infelizmente, é de todo impossível atender o pedido da Senhora Meyer, pois são absolutamente taxativas as nossas leis sobre a entrada de estrangeiros, mormente de europeus. Aliás, atualmente o assunto depende exclusivamente do Ministério da Justiça. Este bilhete chama a atenção para alguns fatos: 1) não emprega a expressão 'judeu', mas dá uma desculpa infundada de que haveria uma genérica restrição ao ingresso de europeus no Brasil; 2) na época (1942) o País não tinha, sequer, constituição. O ditador e seus acólitos tudo podiam; 3) deportava-se arbitrariamente, mesmo se o destino da vítima fosse um campo de concentração e a morte, como foi o caso de Olga Benario e de tantas outras pessoas. Assim sendo, a admissão de estrangeiro não precisava de nenhum rito especial. O resultado de todo esse anti-semitismo foi a morte de milhares de pessoas inocentes que buscavam no Brasil um refúgio, mas que, por preconceito dos governantes, lhes foi negado.
O livro da Professora Tucci Carneiro não se restringe, entretanto, ao Brasil oficial. Também analisa com uma riqueza de detalhes (inclusive uma excelente iconografia) o anti-semitismo existente no Brasil. Aliás, impressiona o preconceito racial que havia contra os judeus. Se hoje fosse feito um milésimo do praticado na Era Vargas contra qualquer etnia ou grupo de pessoas, o Ministério Público teria um trabalho interminável.
O anti-semitismo na Era Vargas é uma obra que já se encontra em segunda edição (2001), atestando a excelente receptividade do público. O crítico Antônio Cândido encerra o prefácio sobre o livro com as seguintes palavras: este livro revolve um terreno dramático de maneira sugestiva e eficaz, configurando-se como marco na historiografia brasileira. Marco esse que ganha importância neste momento de reavaliação da Era Vargas.
CARNEIRO, Maria Luiz Tucci. O anti-semitismo na Era Vargas – fantasmas de uma geração (1930-1945). São Paulo, Editora Perspectiva, 2001, 536 páginas.




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MANUAL DO LÍDER


MANUEL DU CHEF
Napoleão Bonaparte
Tradução de Julia da Rosa Simões
Com prefácio e seleção de frases de Jules Bertaut, a L&PM POCKET publica o livro de aforismos de Napoleão Bonaparte. O Manual do líder reúne os conselhos do famoso imperador, separados por tópicos: 'O líder', 'Da França para os franceses', 'O autoritário e o político', 'Como organizar a nação?', 'Como organizar o exército?', 'A guerra e seu comando' e 'Os diplomatas e o exterior'.
“Do triunfo à queda é apenas um passo.”
 “A maioria dos homens, inclusive dos grandes homens, só sabe ousar pela metade.”
“A coragem não pode ser simulada: é uma virtude que escapa à hipocrisia.”
“A indecisão e a anarquia nas causas levam à anarquia e à fraqueza nos resultados.”
“A melhor maneira de manter sua palavra é nunca dá-la.”
“Nada é mais difícil do que decidir-se.”


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Histórias de Guerras e Batalhas Verdades ReveladasDesmistificando lendas, mitos e segredos que foram passados como verdades através dos tempos    

O lançamento da editora M.books deste mês refuta muitos mitos que mantiveram o público desinformado sobre guerra, a mais perigosa de todas as atividades humanas.

O livro Histórias de Guerras e Batalhas explica:

• As batalhas do mundo antigo e a suposta superioridade
das nações ocidentais desde os primeiros
tempos.

• O famoso mito do arco longo inglês.

• O uso bélico de submarinos antes da Primeira
Guerra Mundial.

• Os ataques aéreos americanos mais letais na Segunda
Guerra Mundial.

• O suposto “ataque” aos contratorpedeiros norte-
-americanos no golfo de Tonkin

E é por tudo isso e muito mais que o livro Histórias de Guerras e Batalhas revela verdades que até então eram mitos.

SOBRE O AUTOR
William Weir escreveu 13 livros antes deste, principalmente sobre crimes e história militar, como 50 Líderes Militares que Mudaram a História da Humanidade e 50 Batalhas que Mudaram o Mundo. É ex-soldado, policial do exercito e combatente de infantaria veterano da Guerra da Coréia. É editor industrial aposentado e, como autônomo escreve em revistas














Dica de leitura para quem gosta de aventuras e história: CRÔNICAS SAXÔNICAS. Série de livros do inglês Bernard Cornweell, ambientada da Inglaterra Medieval, onde Vikings noruegueses e dinamarqueses disputavam espaço com outros povos, como os saxões, bretões, escoceses, irlandeses e francos.
Texto precioso, muito bem conduzido e fundamentado em pesquisa cuidadosa, revelando a mistura de influências étnicas e culturais da Inglaterra, além do processo de unificação política e religiosa.
São seis livros:

1. O Último Reino
2. O Cavaleiro da Morte
3. Os Senhores do Norte
4. A Cancão da Espada
5. Terra em Chamas
6. A Morte do Rei


Este último, A Morte do Rei, recém lançado. Eu pessoalmente, acho o volume Terra em Chamas, o melhor de todos. Mas é claro que é recomendável você acompanhar toda a série, que percorre a vida do personagem Uthed, jovem saxão capturado pelos dinamarqueses, que passa a viver essa "vida dupla", de saxão, criado no cristianismo, e de dinamarquês, seguidor de Thor e Odin.
Confiram. Emocionante.






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Em conversa com o colega e amigo prof. Luís Otávio, descobri esse livro superinteressante e que faz reflexões extremamente relevantes. Faz parte de uma nova linha de análise que busca uma nova leitura de certos produtos da "cultura de massas", para qual a academia sempre reservou apenas críticas, mas que agora, lentamente, ganha espaço mais significativo. Confiram se não é fato. E fica a dica de leitura.

Os Simpsons e a Filosofia
Aristóteles, Nietzsche e Kant visitam Springfield









Os intelectuais costumam torcer o nariz para a televisão e suas principais representações. Alegam que a produção cultural televisiva de qualidade se restringe a canais abertos como os canais educativos estatais (com destaque todo especial para a TV Cultura), a determinados programas dos outros canais (como minisséries baseadas em clássicos da literatura, alguns talk-shows ou noticiários) e aos canais da televisão paga onde há uma grande profusão de documentários (Discovery Channel, National Geographic Channel, BBC, Animal Planet,...).
Seriados norte-americanos e novelas brasileiras ganham vulto e destaque na mídia especializada no gênero, mas dificilmente conseguem vencer a dura resistência do mundo acadêmico. É verdade que as barreiras tem sido derrubadas aos poucos, como um autêntico ‘Muro de Berlim’ quebrado pedaço a pedaço. Análises da influência cultural de determinados programas brasileiros e estrangeiros têm surgido no mercado editorial e, para nossa grata surpresa, assinados por especialistas ou intelectuais provenientes de algumas das melhores universidades nacionais e internacionais.
É esse o caso de “Os Simpsons e a Filosofia”, uma coletânea de artigos escritos por respeitados profissionais dedicados a nobres áreas do conhecimento das ciências humanas, especialmente a filosofia. E como tudo isso começou?
Com conversas em encontros casuais, durante as conhecidas “happy hours”, em que depois de dias exaustivos de trabalho nas faculdades e escolas onde lecionavam ou nas empresas em que cumpriam seus expedientes, esses professores e estudiosos conversavam um pouco sobre vários temas, entre os quais, séries de televisão.

Perceberam que “Os Simpsons”, série de desenhos animados criados por Matt Groening, disponibilizada pelo canal Fox desde 1989 (ininterruptamente), era um dos assuntos mais freqüentes quando falavam de televisão. Todos se mostravam interessados na forma como essa animação era capaz de mobilizar um enorme contingente de telespectadores e, ao mesmo tempo em que divertia, motivava discussões a partir de suas ironias e ácidas críticas ao modo de vida americano.
Resolveram sugerir a alguns editores que as discussões do “happy hour” se transformassem em textos onde aprofundassem o debate. Devido ao imenso sucesso da série e ao potencial explosivo proveniente das desventuras de Homer, Bart, Lisa, Margie e Maggie, além da possibilidade óbvia de grande sucesso de vendas, alguns editores americanos resolveram bancar o projeto. Enorme sucesso por lá, ganhou o mundo e chegou, também, ao Brasil.
“Os Simpsons” também é sucesso em nosso país. Tanto que foi objeto de disputa comercial entre a Rede Globo e o SBT, com as organizações da família Marinho levando a melhor e obtendo os direitos de apresentação dos desenhos de Matt Groening no país (vale lembrar que durante um bom tempo essa autorização permitiu a Silvio Santos colocar Homer, Bart e companhia em sua grade de programação).
Vale, entretanto, refletir por que um desenho animado suscita tantas discussões e algumas disputas comerciais de peso.
É nesse espaço específico que entra o livro “Os Simpsons e a Filosofia”. Seus autores discutem as questões éticas, existenciais, filosóficas e morais que norteiam o rumo dos personagens e das histórias contadas no desenho. A série, de enorme sucesso, tem várias qualidades que quando discutidas em textos produzidos por intelectuais e especialistas ficam mais claras e evidentes até mesmo para os mais fiéis fãs desses desenhos.





Temos que lembrar que, para começo de conversa, “Os Simpsons” é um desenho animado destinado a um público mais maduro e adulto. Pode até ser visto pelas crianças, que vão achar graça na imbecilidade de Homer Simpson ou nas diabruras do pequeno Bart Simpson, mas que dificilmente perceberão diversas ironias e algumas das críticas embutidas nos episódios apresentados.
Cada personagem de “Os Simpsons” foi criado e desenvolvido com uma história de vida, pertencendo a uma cidade chamada Springfield que parece um retrato perfeito da vida interiorana nos Estados Unidos, onde há uma comunidade ampla e variada de pessoas (como os Flanders, vizinhos dos Simpsons; o reverendo Lovejoy, pastor da comunidade; o sr. Burns, proprietário da usina de energia atômica onde Homer trabalha,...) que acabam muitas vezes atuando como protagonistas ao lado da família Simpson.
Em “Os Simpsons e a Filosofia”, os autores se propõem a analisar as ações e características dos principais envolvidos nas histórias, os membros da família Simpson, do patriarca Homer a caçula Maggie. Para tanto se utilizam de fortes referências do pensamento ocidental, provenientes da clássica filosofia grega (como Aristóteles, Sócrates e Platão) e atingindo até mesmo pensadores do mundo moderno e contemporâneo (como Kant, Nietzsche e Sartre).
Homer Simpson, por exemplo, é assunto do primeiro capítulo, “Homer e Aristóteles”, onde é dissecado a partir da categorização lógica dos tipos de caráter criada por Aristóteles, sábio pensador grego, discípulo de Platão e preceptor de Alexandre Magno. É difícil imaginar que tal análise poderia ser feita, entretanto, vale destacar que apesar dos inúmeros episódios em que percebemos toda idiotice e incapacidade de Homer, o que seria suficiente para qualificá-lo como uma pessoa viciosa (de acordo com os preceitos aristotélicos, viciosos são aqueles que não possuem virtudes e não controlam suas vontades), há várias situações em que Homer se destaca como um bom pai, um marido que se mostra fiel a sua esposa e, em determinados momentos, uma pessoa capaz de atos de altruísmo e bravura. A que conclusões poderíamos então chegar quanto a Homer?

Lisa Simpson é, na contramão de seu pai, uma representação de várias virtudes que a colocam constantemente em situação de crise existencial numa sociedade vazia, hipócrita e cínica. Vegetariana convicta, defensora dos direitos das minorias, feminista ardorosa e exemplarmente estudiosa, a menina de 8 anos de idade é a consciência que reina sobre sua família e também sobre Springfield. É mais madura que a grande maioria dos habitantes da cidade e tenta, a cada novo episódio, ajudar todos a seu redor a melhorar suas vidas. Essa pequena menina cheia de virtudes apesar da pouca idade é tema do segundo capítulo do livro, “Lisa e o antiintelectualismo americano”.
Há capítulos dedicados a Maggie e Margie, respectivamente o bebê dos Simpsons e a mãe dedicada, carinhosa e racional, que abre mão de seus sonhos em prol da felicidade de seus filhos e de seu desajeitado marido (“A motivação moral de Margie”).
Bart, considerado ao lado de Homer como o principal astro da série, tem uma análise interessante no capítulo “Assim falava Bart: Nietzsche e as virtudes de ser mau”. Arquétipo do “Bad Boy” capaz de roubar os livros dos professores e causar o cancelamento das aulas (já que os professores não seriam capazes de ministrar suas aulas sem os livros dos mestres...), Bart Simpson é um menino esperto, que contraria as normas da sociedade em busca de emoções que sente terem sido perdidas. Em um dos mais lembrados episódios da série, Bart se torna autêntico ídolo em Springfield e, por isso, passa a ser copiado por todas as pessoas da comunidade. O que, a principio poderia parecer a vitória de sua proposta, o torna infeliz. Sem saber o que fazer, é aconselhado por sua irmã Lisa, a contrariar a ordem (onde todos tentam ser espertos e arteiros como Bart) e se tornar um exemplo de virtude e bom comportamento... A comparação com o super-homem da obra de Nietzsche torna-se um ótimo caminho de reflexão filosófica.

Há muitos outros ensaios que podem nos fazer entender bem não apenas o seriado e seus personagens, mas principalmente os norte-americanos, seu modelo de vida e, mesmo, o mundo em que vivemos. Autêntico micro-cosmo do país do Tio Sam, Springfield é um retrato fiel da vida nos Estados Unidos, onde causas importantes como a questão da utilização da energia nuclear, problemas ambientais, relações humanas, educação, saúde e religião são colocadas na pauta do dia.
Outra importante qualidade do seriado, destacada nos vários capítulos de “Os Simpsons e a Filosofia” refere-se às citações da cultura popular norte-americana que aparecem nos episódios (menções a outros seriados de televisão como “Friends” ou “Perdidos no Espaço”, filmes como “Tubarão” ou “Os Pássaros”, livros de autores consagrados da literatura norte-americana como John Steinbeck ou Ernest Hemingway).
Aprender filosofia pode ficar muito mais fácil quando conseguimos fazer conexões (sinapses) entre produtos da cultura pop mundial como “Os Simpsons” e as grandes referências e conceitos criados pelos principais pensadores da história da humanidade. Outro aspecto importante da obra reside no fato de que as barreiras entre o mundo acadêmico e a sociedade “leiga” estão sendo superadas aos poucos, permitindo um saudável intercâmbio que integre a produção cultural popular e a chamada alta cultura.
Se a televisão e seus principais expoentes puderem contribuir para a educação e a cultura de forma incisiva em prol de um real crescimento, nada melhor do que pensar como os romanos e admitir que é melhor tê-los como aliados do que como inimigos...