quinta-feira, 8 de março de 2012

MALVINAS OU FALKLANDS?

Malvinas ou Falklands?
Falklands ou Malvinas?



Por Marcelo Wilkens Miller



“Ser vigorosa no combate, mas magnânima na vitória, tem sido uma tradição da Grã-Bretanha. Quero que esse padrão estabelecido por Winston Churchill seja mantido.”

(Alexander Haig, secretário de Estado americano, pedindo ao governo inglês que evite uma humilhação exagerada contra a Argentina)

As falhas de planejamento e as visões distorcidas da realidade geralmente são identificadas tarde de mais, muitas vezes quando os resultados já se apresentam como catástrofes. A sabedoria popular diz que quando alguma coisa começa errada, com certeza terminará errada. A Guerra das Malvinas é um exemplo disso.


Com o objetivo de manter-se no poder e aumentar sua popularidade, o presidente argentino Leopoldo Galtieri e sua Junta Militar decidiram pôr em ação o Plano Goa, ou seja, invadir e retomar as Ilhas Malvinas, habitadas por ingleses desde 1833. Tinha tudo para dar errado, e realmente foi o que ocorreu. As inúmeras “trapalhadas” cometidas pelos líderes militares levaram o exército argentino a uma rápida derrota, onde destacaram-se somente a bravura e o heroísmo dos soldados.




O General Galtieri demonstrou desconhecimento de táticas e operações de guerra ao enviar recrutas mal treinados e com equipamentos desapropriados para o campo de batalha, sendo abastecidos por um frágil transporte aéreo. O Comandante do Teatro de Operações, Almirante Lombardo, não ficou para trás. Enviou o cruzador General Belgrano, com pouca defesa anti-submarino, para enfrentar uma das marinhas mais poderosas do mundo. O cruzador, com 43 anos de uso, foi atingido e afundou no incidente com o maior número de vítimas da Guerra.


Mas os equívocos não se limitaram ao planejamento. Uma visão míope da realidade política fez o governo argentino acreditar que receberia o apoio dos EUA e que a Inglaterra aceitaria o episódio como uma questão diplomática. Aconteceu justamente o contrário: os EUA ficaram ao lado do seu mais poderoso aliado na Guerra Fria, enquanto os britânicos prepararam sua Armada em Portsmouth ao som do hino da Royal Navy, “O oceano só tem um dono...”.


As Ilhas Malvinas, ou , têm um clima hostil, onde a neve pode cair em qualquer época e a precipitação de chuva ocorre em mais da metade dos dias do ano. Some-se a isso os ventos fortes e o relevo montanhoso. O cenário da Guerra era um desafio a mais para qualquer soldado, exigindo preparação específica e equipamentos adequados. Mesmo assim, às 4h30min do dia 2 de abril de 1982, uma unidade de elite argentina desembarcou na capital Port Stanley e, após duas horas de resistência dos soldados ingleses, assumiu o controle da cidade, trocando seu nome para Puerto Argentino. O governo da Inglaterra ainda enviou um ultimato para que os argentinos se retirassem. Com a exigência recusada, a Primeira-Ministra Margaret Thatcher ordenou a mobilização para a Guerra.




Os EUA bem que tentaram negociar a paz, mas em 30 de abril Ronald Reagan impôs sanções econômicas à Argentina. Em princípio, as batalhas foram travadas no ar e na água, com perda de ambos os lados. Até que chegou o amanhecer do dia 21 de maio e com ele o começo da retomada das ilhas pelos ingleses. A Operação Sutton foi posta em prática, e milhares de fuzileiros e toneladas de equipamentos, apoiados por ataque aéreo, desembarcaram na Baía de San Carlos. Cercada por altas colinas, esta baía tinha o relevo perfeito para esconder os navios de desembarque dos mísseis Exocet. Porém, também protegiam os aviões argentinos dos radares inimigos. Voando a uma altura de 100 pés, os aviões surgiam de repente por trás das colinas e bombardeavam os navios com tal velocidade que dificultava qualquer revide. Apesar de todo o esforço da Fuerza Aérea Sur, e da destruição de duas fragatas inglesas, a ofensiva terrestre teve início promissor. No fim de maio os pára-quedistas do 2° Batalhão do Regimento Real fizeram 1.000 prisioneiros em Goose Green. Em seguida, nos primeiros confrontos de tropas terrestres, os ingleses tomaram Port Darwin, vencendo um exército quatro vezes mais numeroso, porém mal equipado.


Em 8 de junho, o exército britânico chegou ao perímetro de Port Stanley, confinando a resistência argentina dentro da cidade. Os montes em torno da capital, tidos como pontos estratégicos, são conquistados pelos soldados, e o objetivo final é avistado no horizonte. Sitiada, Port Stanley logo seria dos ingleses; era uma questão de tempo. Dois porta-aviões da Royal Navy estão na costa de prontidão, mas não há mais ânimo para a luta por parte dos argentinos e o exército entrou em colapso. Então, no dia 14 de junho de 1982, há 25 anos, as tropas inglesas caminharam pelas ruas da capital sem encontrar resistência. O General Menendez se rende, e aproximadamente 9.000 soldados entregam as armas. A Inglaterra vence a Guerra das Malvinas.


As conseqüências desta aventura de Galtieri foram fatais para o governo militar. Forçado a abandonar o poder, o presidente argentino vê o País dar uma guinada em direção à democracia, e, em 1983, o voto popular coloca Raúl Alfonsín no comando da nação. Alguns oficiais são levados ao tribunal. Na Inglaterra, a vitória fortificou o governo de Margaret Thatcher.


Os efeitos da Guerra, que matou mais de 600 soldados argentinos e mais de 250 ingleses, são sentidos até hoje. Calcula-se que os suicídios de veteranos argentinos já passaram dos 260. Do lado britânico, o número de suicídios é maior que o número de baixas durante a Guerra.


Mesmo que ainda existam 16.600 minas terrestres nas Malvinas, a Guerra trouxe benefícios para a comunidade das ilhas. O governo da Grã-Bretanha passou a investir no arquipélago; construiu um aeroporto, uma base militar, rodovias, docas e melhorou a infra-estrutura de comunicações. A população aumentou, e o PIB já é mais de dez vezes superior ao PIB de 1982. Os serviços de saúde e educação são gratuitos, e a criminalidade praticamente não existe. Se antes da Guerra havia pobreza e isolamento, hoje pode-se dizer que há riqueza e prosperidade. Ainda existem divergências entre os governos argentino e britânico, mas é fato relevante que os moradores das Ilhas Malvinas têm preferência por permanecerem como cidadãos ingleses


Nota pessoal (Murilo): diante disso, pra mim, Falklands, não Malvinas.