domingo, 2 de novembro de 2014

ANALISANDO A PROVA DE HISTÓRIA DO ENEM



Estamos chegando à reta final na preparação para o ENEM, portanto, segue aí para vocês uma análise das provas do ENEM e algumas dicas de temas possíveis para este ano de 2014.
Se analisarmos a prova de história do ENEM encontraremos alguns temas que são recorrentes, temas que concentram a maioria das questões nos últimos anos. Se você os domina, certamente suas chances de fazer uma média alta na prova é muito grande. São eles:

. Democracia Grega
. Características do Sistema Colonial nas Américas: América Portuguesa, Espanhola e Inglesa
. Escravidão: dentro do período colonial e imperial, o tema escravidão certamente se destaca. Todos     os anos há pelo menos uma questão sobre o tema.
. Brasil República: da República Velha à Era Vargas.
. Guerras Mundiais: Causas e Consequências
. Descolonização da África e da Ásia
. Período Militar no Brasil

Considerando os temas de grande importância e que estão completando períodos históricos significativos, eu destacaria:

. 100 anos da Primeira Guerra Mundial. Analisando o mundo de hoje, ainda encontramos questões      geopolíticas ligadas direta ou indiretamente à causas e consequências da Grande Guerra. Os            problemas territoriais na Palestina e no Oriente Médio, de um modo geral, os problemas no Leste  Europeu, são alguns exemplos disso

. 60 anos do Suicídio de Vargas: os governos Vargas sempre foram assunto de destaque no ENEM. Por isso, acredito que ao completarmos sessenta anos de sua morte, esse tema e tudo o que ele envolve, tem grandes probabilidades de aparecer nas provas.

. 50 anos do Golpe Militar de 64. Esse é outro tema recorrente no ENEM e ainda muito presente nos noticiários do país. Muito se produziu este anos em termos de análise desses 50 anos. Para tornar o assunto ainda mais relevante, as investigações e debates em torno da Comissão da Verdade e de alguns setores da sociedade brasileira nos últimos anos vem pedindo o retorno dos militares ao poder, coloca, definitivamente, esse tema, entre as maiores apostas.

. Descolonização Afro-asiática: tema também bastante frequente e ainda atual, especialmente considerando que o continente africano e seus graves problemas permanecem como uma questão a ser debatida por todo o mundo.

Além desses temas, eu chamaria a atenção para alguns outros pontos: 

. Movimento Diretas Já (1984) e Movimento Fora Collor (1992). Seguindo a relevância dos movimentos de caráter popular mais recentes, na esteira das manifestações do ano passado e da mobilização eleitoral que tomou conta do país ao longo de todo este ano, podem ser considerados na prova.

. Oriente Médio: A Conflitos em Israel, Guerra Civil na Síria e Estado Islâmico. O Oriente Médio, como já disse acima, é um tema frequente. E está ainda mais em evidência em função dos conflitos entre Israel e o Hamas, em Gaza, a guerra civil que se arrasta há anos na Síria e que, além das consequências terríveis para a população do país, contribuiu para a emergência de novos grupos radicais, como o Estado Islâmico e o Levante.

Dados do PNAD: o ENEM também costuma contemplar a análise de dados sociais e econômicos. Questões que remetiam ao senso de 2010, por exemplo, já apareceram. Neste ano, os dados da pesquisa por amostra de domicílios do IBGE, envolveu problemas como greve no órgão, atraso na divulgação, acusações de manipulação de dados e foi um tema muito debatido na campanha eleitoral. Portanto, considero que esses dados, seja de 2010, seja de 2012 - o último PNAD tabulado e divulgado pelo IBGE, podem aparecer

Fica aqui também o desejo de muita calma e tranquilidade para fazer a prova. E sorte também, porque, afinal, toda ajuda é bem vinda.

Abraços gerais.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O SOLDADO E OS MIMADOS



LUIZ FELIPE PONDÉ - FOLHA DE SÃO PAULO


Uma cena da semana: um soldado na tela da CNN. Alta patente do exército conhecido como Peshmerga, o Exército curdo. Povo distante este, o curdo. Muitos de nós nem sabe que existem. Viviam, até agora, na solidão de nossa ignorância. Só quem se ocupa do Oriente Médio sabia da existência deles.

Mas, pouco importa conhecer algo hoje em dia, basta ter opiniões. Todo mundo tem opinião, a começar pelos idiotas do bem. Pergunto-me o que faria um desses diante do inimigo que este soldado enfrenta todo dia.
De volta ao soldado peshmerga. Rosto tenso, inglês difícil, pedido de socorro ao Ocidente –esta região do mundo que mergulhou nos delírios de intelectuais que se preocupam mais com os direitos dos terroristas do que com os das vítimas.
Os peshmergas combatem o Estado Islâmico (EI), grupo fundamentalista e terrorista sunita (será que algum inteligentinho discorda dos termos "fundamentalista e terrorista" aqui?) que gosta de cortar cabeças e clitóris em nome de Alá (Alá nada tem a ver com isso, coitado!).
Surgiu em meio à ridícula visão ocidental de que existiu um dia uma coisa chamada "Primavera Árabe" pela democracia, quando, na realidade, o que houve foi o que há naqueles lados do mundo há séculos: grupos brigando pelas mais variadas questões, inclusive pré-históricas. Mas ainda temos que viver mais mil anos pra passar esta febre do "moderno" que se pensa "novo" na face da Terra.
Um soldado como aquele, com o rosto marcado pelo medo e pela coragem (problema de quem de fato enfrenta a morte e não apenas assina manifestos afetados), pedia socorro ao Ocidente.
Ele, caso caia nas mãos do Estado Islâmico, terá, muito provavelmente, sua cabeça cortada. Ou será crucificado. Sua mulher e filhas vendidas como escravas, seus filhos crucificados também. Mas, em nossas terras de queijos e vinhos, os manifestos dos mimados contra a violência no Oriente Médio, quem sabe, deveriam pedir dinheiro ao Estado Islâmico, que é, aliás, bem rico.
Alguns intelectuais culpam os EUA pelo surgimento do Estado Islâmico. Mas o que fazer? Faz parte da infância mental acreditar em Papai Noel e culpar os EUA e Israel por tudo o que acontece.
Talvez, melhor, seria responsabilizar alguns professores dos departamentos de ciências humanas no Ocidente, por brincarem com coisa séria em suas sessões de queijos e vinhos.
O soldado peshmerga sabe o que é sério e o que é afetação de manifestos. Nós, não. Cremos no relativismo de butique que assola nossas universidades.
Existe sim um relativismo filosófico, desde Protágoras na Grécia, mas este é sempre uma demanda ao intelecto atento (desde Sócrates e Platão), não uma desculpa para afetações de quem confunde o mundo real com queijos e vinhos.
Não só muitos intelectuais vestiram o manto da pureza. Muitos artistas também manifestam sua superioridade moral. Formam o novo clero hipócrita do mundo. Confundem seus mundos seguros de ideias e formas com o mundo onde amor e ódio pesam mais do que ideias e formas de amor e ódio.
O soldado, que sabe que sua atitude pode custar sua vida, segue na sua solidão da guerra. A guerra é solitária. A solidão da morte.
Sonham, esses corajosos curdos que enfrentam de peito aberto os terroristas do Estado Islâmico, com uma democracia estável, na qual possam trabalhar, estudar e viver suas vidas comuns, como a de todos nós.
Sonham que um dia, em meio ao Oriente Médio, essa terra de sangue, possam ter, como eles dizem, uma sociedade como os EUA e Israel. Mas estou seguro que nosso clero de puros no Ocidente não concordaria com esses homens e mulheres que de fato podem morrer pelo que se recusam a fazer: aceitar o fundamentalismo do Estado Islâmico.
Agora o Reino Unido terá de enfrentar seus filhos do EI, criados pelo relativismo de butique de Oxford Street.
Imagino que poderíamos chamar todos os membros do clero puro de intelectuais e artistas para assessorarem o governo britânico em seu pânico com os passaportes europeus que os terroristas têm em mãos.
Afinal, uma nova era para o terrorismo islâmico se abre

sábado, 12 de julho de 2014

O RACISMO DOS MOVIMENTOS NEGROS

ÉDER SOUZA
PROFESSOR DE HISTÓRIA

Primeiramente, devemos pensar no papel da universidade na sociedade. Ela, primeiramente, tem o papel de desenvolver a pesquisa científica em diversos ramos do conhecimento, para o desenvolvimento de toda uma comunidade. Para que essa tarefa se realize, é necessário que a universidade recrute para seus quadros pessoas que possuem pré-requisito educacional e intelectual para desenvolver tais pesquisas. Por isso ela necessariamente tem que possuir um caráter meritocrático em suas admissões, que devem passar ao largo de questões étnico-raciais. A universidade não deve ser local de compensações de supostas “dividas históricas”. Nesse quadro, a universidade não reconhece qualquer outro critério que não seja o conhecimento adquirido pelos pleiteantes às vagas disponíveis; o pleito é impessoal e não questiona a etnia ou procedência da pessoa que a ele se submete.
[...]
Percebe-se que o problema fundamental está na relação que o Estado e a sociedade têm com a educação de base. Em um país onde mais de 70% dos alunos concluem o ensino médio sendo analfabetos funcionais, e por volta de 50% dos universitários também o são, ranqueado entre os últimos em qualidade educacional no mundo, está muito claro que a questão maior não é a universidade, mas sim o ensino básico deficiente ofertado pelo governo para a maior parte da população.
Como o governo é especialista em quebrar a perna do cidadão e depois oferecer muletas argumentando que “sem mim você não andaria”, para ele é interessante não resolver uma questão espinhosa como a educação de base e, ao invés, dizer que solucionará o problema do acesso desigual à universidade fornecendo cotas, o que sem dúvida é uma medida de impacto imediatista, marqueteira e eleitoreira. Por isso, para o governo é mais lucrativo incentivar as pautas do movimento negro, que tem em suas lideranças pessoas ávidas por estarem dentro da estrutura do Estado para poder influenciar políticas públicas. Então, estamos diante de um problema maior do que cotas ou não cotas. A questão que deve realmente nortear o debate é, de um lado, o desemprenho das políticas estatais de formação educacional dos cidadãos e, de outro, as ações de grupos do movimento negro que se utilizam da política de cotas como instrumento para alcançar influência dentro do Estado.
[...]
A estereotipagem inversa da identidade do negro significa que o negro que quiser ser considerado negro de fato terá que apoiar as pautas dos “movimentos afirmativos”, que dizem lutar por todos os negros e se autointitulam representantes da raça. Mas como qualquer grupo humano é composto de indivíduos diferenciados, com valores e pensamentos diversos, devemos entender que características são necessárias para que se considere alguém um “bom” negro sob a ótica do movimento que diz representar
Para essa gente, só pode ser bom o negro que está “em luta”, e apenas luta o bom combate aqueles que lutam as guerras que esse movimento decide que devem ser guerreadas; se discorda das pautas do movimento, como as cotas, o indivíduo é chamado de “negro de alma branca”, o que significa estar vendido ao outro lado, um alienado ou mal intencionado. O movimento cumpre o papel de capitão-do-mato do próprio negro, ao tirar sua liberdade de ser um indivíduo autônomo que pensa por si e chega às próprias conclusões.
[...]
As perseguições racistas a Joaquim Barbosa, aliado de longa data de diversos movimentos de negros (mas que contrariou interesses do PT), mostram bem como o negro que tem posições políticas diferentes das do movimento é tratado com desprezo. Quando, durante o julgamento do mensalão, o ministro do STF começou a sofrer ataques racistas sistemáticos, tendo sido chamado de “capitão do mato”, “negro traidor”, “negro ingrato”, não se viu defesa sua por parte do movimento de negros. Ao contrário, vimos um deputado negro do PT dizer o seguinte: “Negros que usam o chicote para bater em outros negros não são meus irmãos. O Joaquim Barbosa não é meu irmão”. Na lógica distorcida do deputado petista, o negro que Joaquim Barbosa chicoteou é nada mais nada menos do que… José Dirceu.
[...]
Como escapar dessa tentativa de dominação e dar ao negro uma verdadeira liberdade? A única forma é construir uma sociedade meritocrática, onde o que vale é a capacidade individual de cada um, não quaisquer outros atributos, seja a etnia, orientação sexual etc. Os negro e outras minorias oprimidas não têm que exigir que o Estado os tutele com reservas de mercado ou leis específicas, mas sim que o Estado cumpra bem o seu papel mínimo. A meritocracia social absoluta é impossível, pois há diversos fatores sociais e de nascimento que beneficiam uns e prejudicam outros; porém, possibilitar e incentivar a ascensão social pelo mérito individual é a base da construção de uma sociedade saudável.

terça-feira, 24 de junho de 2014

À SOMBRA DOS EVENTOS IMORTAIS





Victor Andrade de Melo
In: Revista Brasileira de História
O Rio de Janeiro já assistira a grandes competições esportivas, mas as regatas programadas para aquele dia 9 de agosto de 1903 tinham algumas diferenças e foram acompanhadas como nunca pela cidade.
Se antes eram os clubes que procuravam o poder público para obter apoio para manter suas atividades, dessa vez foi o prefeito do Distrito Federal, o plenipotenciário Pereira Passos, que avisou à Federação Brasileira de Sociedades de Remo: seria concedido um troféu à guarnição vencedora de uma prova denominada “Grande Prêmio Municipal”. Assumiu ainda o compromisso de construir as arquibancadas para acolher uma parte do público. Estimulado pela iniciativa do alcaide, o presidente da República, Rodrigues Alves, resolveu oferecer um troféu de bronze, destinado a premiar os vitoriosos do páreo intitulado “6º Campeonato do Rio de Janeiro”.
No dia do grande evento, a enseada de Botafogo se engalanou de gente. Os mais ricos se distribuíram pelas barcas de particulares ou de agremiações náuticas e pelas arquibancadas, construídas no mesmo lugar onde futuramente seria instalado o belo Pavilhão de Regatas (também patrocinado por Pereira Passos, com dinheiro público federal). Assistiram às provas em meio a danças, números musicais executados por orquestras, e animadas conversas sobre a vida chique da cidade, apreciando refrescos, salgados e doces preparados pelas melhores confeitarias da ocasião – serviço que já era prestado desde meados do século XIX, a princípio para os bailes promovidos pelas sociedades dançantes. Já o povão, não menos animado, se espalhou pela orla em algazarra.
A festa celebrava muito mais do que uma competição esportiva. Boa parte da cidade passava por reformas destinadas a apresentar a capital como a melhor imagem do progresso e da civilização que se esperava para o país. As regatas celebravam tais mudanças. Nesse grande evento do remo fluminense estiveram presentes importantes personagens da política nacional: além de Rodrigues Alves e Pereira Passos, todos os ministros e muitos senadores e deputados, bem como dirigentes dos mais distintos setores do Poder Executivo.
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Não era a primeira vez que a cidade testemunhava um acontecimento esportivo de grande repercussão pública. Desde os anos 1850, os cariocas vinham progressivamente se envolvendo com esportes, como o turfe (corridas de cavalos) e o remo. Em menos de 50 anos, a prática passou de novidade cultuada por poucos a uma das preferências da população da capital.
As regatas de agosto de 1903 marcaram definitivamente a aproximação que o prefeito do Distrito Federal vinha entabulando com as sociedades náuticas. Pereira Passos percebeu que o esporte, ainda mais quando relacionado às noções de saúde e higiene – conforme vinha sendo defendido pelos líderes do remo – poderia ser uma boa ferramenta para celebrar a construção de um novo imaginário para a cidade que desejava “regenerar”. As conexões entre a política e a prática esportiva estavam estabelecidas como nunca antes no Brasil, uma relação que seguiria se fortalecendo no decorrer do século XX, manifestada claramente nos eventos esportivos.
Em 1922, competições esportivas fizeram parte de uma série de iniciativas promovidas pelo governo para comemorar os cem anos da Independência. Um clima tenso cercou as celebrações – a vitória de Arthur Bernardes para a Presidência sofreu uma forte oposição, que manifestou-se claramente no levante do Forte de Copacabana, o que levou ao então presidente Epitácio Pessoa a decretar estado de sítio.
Ainda assim, as ações governamentais ao redor das celebrações de 1922 pretendiam forjar para o Brasil a imagem de uma nação moderna, marcada pelas ideias de união e paz. Entre os eventos esportivos promovidos, destacam-se o VI Campeonato Sul-Americano de Futebol os Jogos Olímpicos Sul-Americanos do Rio de Janeiro, a primeira competição regional dessa natureza, reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional.
Obras no estádio Mané Garrincha / Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
Obras no estádio Mané Garrincha / Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
A organização foi marcada por muitos percalços, entre os quais críticas ao atraso e ao excesso de gastos públicos na realização das obras necessárias para as competições. Esse quadro preocupou o representante do Comitê Olímpico Internacional, e chegou-se a aventar o cancelamento do evento ou sua transferência para outra cidade. Depois de muito debate e desencontros entre o governo e os responsáveis pela promoção das competições, tudo foi realizado com grande sucesso de público, ainda que os improvisos tenham prejudicado algumas modalidades. O campeonato de futebol, que também integrou as celebrações de 1922, quase ocasionou um incidente diplomático com alguns países da América do Sul, especialmente com Uruguai e Argentina, em função de sérios problemas com a arbitragem.


Improvisos, atrasos e excesso de gastos públicos também se fizeram notar durante a organização da Copa do Mundo de Futebol de 1950, notadamente na construção do Maracanã. Naquele momento, o futebol já se firmara como uma das preferências dos brasileiros, elevado a símbolo nacional em alguns discursos. Era entendiam como a expressão da excelência de nosso processo de mestiçagem, uma demonstração do valor e da originalidade de nosso povo.
Não surpreende que tenha ocorrido tanta mobilização política ao redor do evento. O próprio Maracanã, que assumia o statusde maior estádio do mundo, era considerado uma prova da grandiosidade e da capacidade de realização do Brasil. A consagração definitiva deveria vir com a vitória na final do campeonato mundial frustrada pela seleção uruguaia. Mesmo assim, com todos os tropeços, o país conseguiu organizar um evento de alcance mundial.
No decorrer da segunda metade do século XX, as equipes nacionais de diversas modalidades aumentaram seu protagonismo no cenário mundial, mais ainda a seleção brasileira de futebol. Em todas as disputas memoráveis houve algum grau de relação com o cenário político ou com certas questões sociais em voga no momento da conquista. Isto também aconteceu nos eventos internacionais que o Brasil promoveu. E foram muitos, de esportes distintos. Apenas no ano de 1963, por exemplo, São Paulo recebeu os IV Jogos Pan-Americanos e Porto Alegre sediou os Jogos Mundiais Universitários (asUniversíades). Nessas ocasiões era comum a presença de dirigentes a exaltar a grandiosidade da nação.
Alguns eventos tinham relação ainda mais explícita com a política, como a Taça Internacional Independência de Futebol, concebida pelo governo ditatorial para celebrar o sesquicentenário da Independência (1972). O intuito era aproveitar a data para forjar um clima interno mais favorável e melhorar a imagem internacional do Brasil, abalada pela manutenção do regime autoritário e pelas acusações de que existiam tortura e assassinato de opositores no país.
Chegamos ao século XXI e o Brasil se insere definitivamente no circuito dos agora chamados megaeventos esportivos em função de sua grandeza, inclusive no que diz respeito aos gastos necessários para a sua organização. Depois de promover algumas importantes competições, como os Jogos Pan-Americanos de 2007 e os Jogos Mundiais Militares de 2011, estamos às vésperas da realização de mais uma Copa do Mundo de Futebol e a dois anos de sediar os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro – pela primeira vez num país da América do Sul.
Como nas outras ocasiões, a articulação entre esporte e política mais uma vez fica evidente. A candidatura para os eventos foi amplamente referendada e apoiada por administrações governamentais municipais, estaduais e federal. Argumentava-se que, para além dos supostos ganhos que o país teria (materiais e simbólicos), a promoção dessas competições consagraria o novo protagonismo do Brasil no cenário internacional.
As coisas, contudo, não parecem correr muito bem, e o que se vê são atrasos nas obras, excessos de gastos públicos, remoções, improvisos e a falta de um claro legado social. Até o momento, a Copa e os Jogos Olímpicos não parecem lograr boa repercussão internacional, nem tampouco empolgar ou orgulhar os brasileiros como esperavam os governantes. Parte da população tem inclusive demonstrado publicamente sua insatisfação. Parece que aprendemos pouco com as lições da história.
Victor Andrade de Meloé professor da UFRJ, coordenador do Laboratório de História do Esporte e do Lazer (Sport/UFRJ) e organizador,em conjunto com Fabio Peres e Mauricio Drumond, de Esporte, cultura, nação, estado: Brasil e Portugal(7Letras, 2014).

quinta-feira, 19 de junho de 2014

ESPANHA JÁ TEM UM NOVO REI



Empossado ontem, 18 de junho de 2014, o rei Filipe VI, décimo nono rei da Espanha, sexto rei da dinastia Bourbon na Espanha, segundo rei após a restauração da monarquia, em 1975.

Dos reis com nome Filipe, na Espanha, três deles (Filipe II , Filipe III e Filipe VI, foram também reis de Portugal, durante o período conhecido como União Ibérica, entre 1580 e 1640.)

Filipe VI assume o trono em um momento delicado para a monarquia espanhola, desgastada por escândalos de corrupção envolvendo uma das filhas do rei Juan Carlos, irmã do novo monarca, pela divulgação de fotos do rei Juan Carlos caçando elefantes em Botsuana – o que provocou um pedido público de desculpas por parte do rei.

Em função desses desgastes, o movimento republicano ganhou novo folego nos últimos anos. Militantes pró-república reivindicam realização de um plebiscito sobre forma de governo.

Filipe VI, tem sido chamado, como alcunha, tradição na Espanha, de “O Preparado”, devido a sua formação pessoal, conforme a imagem salienta

quarta-feira, 21 de maio de 2014

ELEIÇÃO NA ÍNDIA MUDARÁ O MUNDO

ELEIÇÃO DA ÍNDIA MUDARÁ O MUNDO

Martin Wolf
Folha de São Paulo
21-05-14



Surjit Bhalla, um economista indiano, me escreveu afirmando que a recente eleição na Índia foi "a mais momentosa da história do mundo". Discordo: as eleições de Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt foram mais significativas. Mas a ideia não é absurda. A população da Índia é de 1,27 bilhão de habitantes. Em breve ela ultrapassará a China como país mais populoso do planeta. Se a eleição de Narendra Modi transformar a Índia, transformará o mundo.
Já é possível identificar pelo menos três maneiras pelas quais a eleição foi notável.
Primeiro, a Índia demonstrou ainda uma vez a maior virtude da democracia: uma transferência pacífica de poder legítimo. Que isso seja possível em um país tão vasto, diversificado e pobre é uma realização política inspiradora.
Segundo, os indianos rejeitaram a política dinástica do Partido do Congresso, o que, infelizmente, trouxe o fim da carreira muito distinta de Manmohan Singh, um homem que admiro há quatro décadas, no serviço público. O mais importante governo do Partido do Congresso depois da era de Jawaharlal Nehru foi o de Narasimha Rao, no começo dos anos 90, ao qual Singh serviu como ministro reformista das Finanças. Se Modi conseguir sucesso, será porque terá aproveitado as fundações então estabelecidas. O Partido do Congresso continua a ter a melhor chance de ser o forte partido laico de que a Índia precisa, mas apenas se conseguir se libertar de sua dependência da família Gandhi.
Terceiro, Modi é um homem que subiu sozinho. Ainda que seu partido tenha conquistado apenas 31% dos votos, ele obteve maioria esmagadora na câmara baixa do Legislativo. E o fez ao prometer que expandiria ao restante do país os sucessos que aparenta ter conseguido no Estado de Gujarat. Na Índia há debate intenso sobre o Gujarat e sua possibilidade de servir como modelo. Mas isso não é o ponto mais importante. O que importa mais é que os indianos escolheram um líder que promete melhorar suas vidas. Ele não foi escolhido por suas origens. Isso é prova da transformação da Índia nos últimos 25 anos.
O governo que está deixando o poder foi condenado como fracasso. Mas, como aponta Shankar Acharya, assessor econômico dos governos indianos dos anos 90, "o crescimento econômico atingiu a média de 7,5% ao ano, o mais rápido de qualquer década da história da Índia. Esse rápido crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) elevou a renda média em cerca de 75% em termos reais, considerada a inflação". Isso parece bom. Mas, ele acrescenta, também oculta a verdade.
O crescimento se desacelerou acentuadamente nos três últimos anos "devido ao acúmulo de más políticas econômicas", enquanto a inflação nos preços ao consumidor subiu para entre 9% e 11% nos últimos cinco anos. Ao mesmo tempo, diz Acharya, as políticas do governo foram piorando constantemente. Ele aponta para os gastos exorbitantes em subsídios ao petróleo, comida e fertilizantes, programas de benefícios perdulários, aumentos salariais exorbitantes e imensos deficit fiscais. Outros fracassos incluem a recusa de remover os desincentivos à criação de empregos, a preservação do capitalismo de compadres, regulamentação incoerente, tributação retrospectiva, saltos excessivos nos preços de aquisição de alimentos e corrupção.
Acharya argumenta que tudo isso contribuiu para um legado preocupante: o fracasso na criação de empregos para os 10 milhões de jovens que ingressam no mercado de trabalho a cada ano; a estagnação da indústria; infraestrutura inadequada; um grande acúmulo de projetos inacabados; vulnerabilidade da agricultura devido a problemas no abastecimento de água; programas de benefício mal geridos; enfraquecimento das finanças externas do país; e deterioração ainda maior na qualidade da governança.
Acharya é um analista sóbrio das realidades econômicas indianas, e foi colaborador muito próximo de Singh nos anos 90. Sua avaliação negativa é muito convincente. Mas a Índia certamente pode fazer melhor. As mais recentes estimativas sugerem que a renda per capita do país equivale a apenas 10% da norte-americana e a 50% da chinesa. Deve ser possível para a Índia recuperar esse atraso com velocidade ainda maior.
Modi foi eleito acima de tudo para acelerar o desenvolvimento. Mas se recordarmos o fracasso da campanha "Índia reluzente" de seu partido, o Bharatiya Janata, uma década atrás, ele precisa fazê-lo de maneira que beneficie a vasta maioria da população, e não apenas a elite.
Não está claro que Modi seja capaz de superar esses grandes desafios, em um país grande e complexo como a Índia. Seu lema - "menos governo e mais governança" - capturou bem o clima da população. Mas não está claro o que isso significará na prática.
Uma análise do JPMorgan sugere que na realidade "existe uma notável convergência no pensamento econômico mais amplo" dos dois partidos. As diferenças que existem estariam mais na implementação, uma área que os partidários de Modi também enfatizam. Isso sugere que o imposto sobre bens e serviços (um tributo nacional de valor adicionado) pode ser implementado, projetos de investimento podem ser acelerados, os preços da energia podem ser liberalizados, ações das empresas estatais podem ser vendidas - ainda que sem privatização plena - e a consolidação fiscal pode ser acelerada.
Tudo isso seria positivo, mas provavelmente insuficiente para propiciar a aceleração necessária na geração de crescimento e empregos. Novas reformas, igualmente vitais, precisam vir na regulamentação do emprego, educação e infraestrutura, com o objetivo de tornar a Índia uma base para a produção industrial com uso intensivo de mão de obra. Dada a alta dos salários na China, essa ambição é plausível. Uma melhora na administração da lei é crucial. A agricultura precisa de grandes avanços, o que inclui uma cadeia de suprimento mais moderna. Os Estados do país precisam ser forçados a competir uns contra os outros por pessoal, capital e tecnologia.
A eleição pode se provar um passo importante para a modernização econômica da Índia, relançada em 1991. Mas essa rodada de reformas também será mais difícil de realizar do que a precedente. Agora a questão não é só a de tirar o Estado do caminho. O que importa mais é tornar o governo um servo efetivo e honesto do povo indiano. Esse é um desafio de magnitude provavelmente uma ordem mais alta do que aqueles que Modi superou no governo do Gujarat.
Modi continua a ser um enigma. Ele é um homem de ação, um nacionalista e um membro dedicado do movimento Hindutva. É difícil acreditar que ele reagiria de modo tão brando quanto Singh à promoção do terrorismo pelo Paquistão. É impossível determinar o que ele significará para o relacionamento entre as diferentes comunidades indianas. Ninguém sabe, tampouco, que grau de obrigação ele sente para com os empresários que bancaram sua campanha. Mas uma coisa é certa: o jogo na Índia agora é novo. É preciso prestar atenção.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A VIDA DO ALFERES DA COMPANHIA DE DRAGÕES DAS MINAS JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER

A VIDA DE JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER



(Observação: não existem descrições precisas ou imagens do Alferes Xavier, portanto, todas as imagens produzidas sobre ele são fictícias )


O NASCIMENTO
Joaquim José da Silva Xavier nasceu na fazenda do Pombal, comarca do Rio das Mortes, próximo a Vila de são José Del Rei. (Atual Tiradentes) no ano de 1746, não se sabendo, porém o dia de seu nascimento. Era o quarto filho de Domingos da Silva 406 Santos, Português e de Dona Antônia da Encarnação Xavier, e seus irmãos eram: Domingos, Antonio e José, e as irmãs eram Antonia Rita, Maria Vitória, e Eufrásia Maria. Tiradentes foi batizado no dia 12 de novembro de 1746, tendo sido seu padrinho o Dentista Sebastião Ferreira Leitão e como madrinha Nossa Senhora da Ajuda.
INFÂNCIA E JUVENTUDE
Tiradentes foi criado e passou parte de sua infância na fazenda de seu pai, sendo que aos nove anos de idade, morre sua - mãe, e aos doze morre seu pai. A família se desfez. Tiradentes foi morar na casa de seu Padrinho, o dentista Sebastião Ferreira Leitão, que - procurou interessá-lo por sua profissão, incentivando-o a ler livros de medicina e ensinando-lhe noções práticas de cirurgia e odontologia. Bem cedo começou a ajudar o padrinho no trabalho.
Fazia curativos e logo aprendeu a tirar dentes e substitui-los por dentaduras e dentes postiços, ficando assim conhecido na Vila de São José Del Rei como o Tiradentes.
Trabalhou também como tropeiro e mascate, caminhando pelos garimpos de Minas e fazendo viagens ate a Bahia. Depois tentou a sorte na atividade mineradora, ocasião em que comprou uma pequena porção de terras e quatro escravos, aplicando o que economizou como dentista, porém não deu certo esta sua - tentativa, deixando-lhe apenas muitas dívidas.
O MILITAR
Em lº de Dezembro de 1775 ingressou na carreira militar e alistou-se na 6º Cia. de Dragões da Capitania de Minas Gerais, e por ser - descendente de portugueses cristãos, teve o privilégio de ingressar nas armas já como oficial, sem passar pelos postos subalternos. Tornou-se - Alferes, posto este correspondente ao de 2º tenente.
Recebeu missões perigosas, que cumpriu com eficiência, devido ao seu conhecimento do sertão.
À frente do destacamento acabou com o banditismo na serra da Mantiqueira e combateu os contrabandistas de ouro.
Comandou a guarda dos armamentos depositados no quartel de Vila Rica. Em 1781, foi nomeado pela rainha de Portugal para chefiar a patrulha do Caminho Novo, estrada que ligava Minas ao Rio de Janeiro, por onde seguiam as Tropas de Mulas trazendo o ouro para ser embarcado no porto do Rio de Janeiro.
Nessa fase de sua vida, Tiradentes fez amizades em todas as vendas e hospedarias da estrada, onde ficou muito popular. Também nessa mesma época - Tiradentes, já aos 35 anos, namorou uma jovem de quem gostou muito, de nome Ana, que morava no Tijuco (atual Diamantina) e era sobrinha do Padre Rolim, seu amigo e, mais tarde, também membro da Conjuração Mineira. Quando Tiradentes pediu-a em casamento, através do Padre, ficou sabendo que - ela já estava prometida a outro.
Tiradentes nunca se casou. Continuava só, porem duas outras mulheres haviam passado em sua vida; ambas de nobre condição social. A primeira, uma mulata, Eugênia Joaquina da Silva, de quem Tiradentes teve um filho de nome João. A outra uma viúva, Antônia Maria do Espírito Santo, vivia nos - arredores de Vila Rica (atual Ouro Preto), e também lhe deu uma criança, uma menina de nome Joaquina.
No ano de 1787, cansado da vida militar, Tiradentes pediu licença no regimento, e foi para o Rio de Janeiro, onde apresentou ao vice-rei Dom Luiz de Vasconcelos alguns projetos de engenharia e hidráulica, para a canalização e captação dos rios Catete e Maracanã, para abastecimento da cidade e edificação de moinhos; e construção de armazéns para o gado a ser exportado. Seus projetos porem ficaram aguardando a aprovação das autoridades de Portugal, e nunca foram executados. Enquanto permanecia no Rio de Janeiro, reuniu-se com o estudante José Álvares Maciel, que acabava de chegar da Inglaterra, com o Padre Rolim e com o Coronel Joaquim Silvério dos Reis, e juntos elaboraram os primeiros planos da revolta contra Portugal.
Terminada sua licença Militar, Tiradentes, em Agosto de 1788, volta a Minas comandando a escolta da mulher do Visconde de Barbacena, novo Governador de Minas.
Em Vila Rica se tornou o principal articulador da conspiração para a libertação do país. Organizou um grupo do qual faziam parte pessoas de grande - projeção na capitania.
Era ao mesmo tempo, um idealista e um espírito prático. Não hesitava em fantasiar os fatos para atingir seus objetivos.
Inventou, por exemplo, que o novo governador trazia instruções para que - as fortunas particulares em Minas, não ultrapassassem dez mil cruzados. Garantiu a todos o apoio de potências estrangeiras à conjuração.
Em fins de 1788, aconteceu a primeira reunião dos conspiradores na casa do Tenente-Coronel Paula Freire. A ele se unira o Padre Carlos Correia de Toledo, vigário de São João Del Rei, homem rico e influente, e a conspiração foi crescendo com a participação do Cônego Luiz Vieira da Silva, do Padre Rolim, Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e outros que no decorrer do tempo se juntaram aos primeiros.
A INICIAÇÃO DE TIRADENTES
Naquela época a maçonaria permitia que se fizesse iniciações fora dos templos e às vezes por um irmão com autoridade, o que era denominado de: Iniciação por Comunicação. E assim José Álvares Maciel iniciou Joaquim Jose da Silva Xavier, sendo que este tipo de iniciação foi suprimido em 1907, com a promulgação da constituição
Lauro Sodré. O Coronel Francisco de Paula Freire, não gostava do Alferes Tiradentes, com o qual mantinha fria distância. Esse tratamento mudou completamente quando Tiradentes de volta do Rio de Janeiro, participou-lhe que havia si do iniciado nos mistérios da Maçonaria.
A DELAÇÃO
0s planos foram traçados, na ocasião da derrama, Tiradentes depois de prender o governador, despertaria Vila Rica aos gritos de Liberdade. A pretexto de restaurar a ordem, Paula Freire e suas tropas ocupariam a cidade e, com Vila Rica sob controle, declararia sua Adesão à Inconfidência. Tiradentes resolve passar em todos os conjurados e verificar se cada um estava cônscio de sua responsabilidade, obtendo um sim de cada um deles e em Março de 1789, segue para o Rio com desculpa de ver como iam os seus requerimentos de obras públicas, porém sua verdadeira missão era conseguir o "apoio da guarnição do Rio de Janeiro e durante sua viagem ia divulgando suas idéias, sem maiores cautelas, pelas hospedarias e vilas do Caminho Novo e durante sua viagem a conspiração foi denunciada em uma carta dirigida ao Governador Visconde de Barbacena e assinado pelo traidor Joaquim Silvério dos Reis do seguinte teor:
“Existe um movimento contra a Coroa e automaticamente contra V. Excia. no sentido de derruba-lo por ocasião da derrama e em seguida sublevar o povo e a tropa, para logo após, partirem com adesão do povo de outras províncias, para uma louca independência.
Para isso contam com as maiores inteligências desta terra e pessoas de destaque do vosso governo, tendo como principal chefe o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, um dos mais inflamados oradores, acompanhado de perto por homens com ideais impregnados pelos últimos acontecimentos de independência da América Inglesa.
Se V. Excia. der crédito a esta missiva, gostaria de ser chamado sigilosamente ao vosso gabinete, onde declinaria pessoalmente o nome de todos os que tramam contra nossa Augusta e Soberana Rainha.
Ponha todos estes importantes participantes na presença de V. Excia. pela obrigação de felicidade, não por meu intento, nem vontade, sejam de ver a ruína de pessoa alguma, o que espero em Deus que, com o bom discurso de V. Excia. há de acontecer tudo e dar as providências, sem a perdição dos vassalos. O prêmio que peço tão somente a v. Excia. é o de rogar-lhe que pelo amor de Deus se não perca ninguém”.
A PRISÃO E MORTE
Todos os inconfidentes foram presos, porém Tiradentes encontrava-se na casa de seu amigo Domingos Fernandes da Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, onde no dia 10 de maio de 1789, foi preso e ficou incomunicável cerca, de três anos e nesse período só foi visitado por seu - confessor, o Padre Raimundo Penaforte. No dia 18 de abril de 1792, foi proferida a sentença dos cinco réus padres, e no dia 19, dos demais conjurados. A Tiradentes foi proferida a seguinte sentença:
"Portanto condenam ao réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da capitania de Minas, a que com baraço e pregão, seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde em lugar mais publico dela, será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo será dividido em quatro Quartos, e pregado em postes pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve suas infames práticas, e os mais, nos sítios de maiores povoações, até que o tempo também os consuma; Declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo os seus bens aplicados para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica, será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique."
No dia 21 de abril de 1792, as 9.00 H, inicia o triste cortejo: À frente uma Cia. de Soldados, depois os frades dizendo orações e em seguida Tiradentes, o laço da forca no pescoço e a ponta da corda segura pelo carrasco, e quase abraçado ao condenado, Frei Penaforte reza com ele.
Descalço, com o cabelo todo raspado e sem barba, vestido com uma camisola branca, Tiradentes seguia de Cabeça erguida, porte erecto, e passo firme a marcha para a forca, construída no Lago da Lampadosa (Atual Praça Tiradentes) onde às 11:20 hs Tiradentes foi enforcado.
Frei Raimundo Penaforte, o confessor, escreveu o seguinte sobre Tiradentes: "Foi um daqueles indivíduos da espécie humana, que põem em espanto a própria natureza. Entusiasta, empreendedor com o fogo de um D.
Quixote, habilidoso com um desinteresse filosófico, afoito e destemido, sem prudência às vezes, em outras temeroso ao cair de uma folha; mas o seu coração era sensível ao bem. A Coroa quisera, com o espetáculo do enforcamento, afirmar o seu domínio sobre a colônia brasileira.
Tiradentes tentara, com o sacrifício, salvar os companheiros e abrir ao povo o caminho da emancipação política." Um espírito inquieto, um homem leal, esse Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha TIRADENTES.

(fonte: www.pael.com.br)

ONDE ESTÁ A CABEÇA DO TIRADENTES?

A cabeça do Tiradentes foi colocada em uma gaiola de metal e exposto em Ouro Preto, mas, não passou nem um dia exposta. Antes mesmo de amanhecer, foi roubada e seu destino ignorado. Uma das histórias sobre o destino da cabeça do Tiradentes, é a que segue:




A cabeça de Tiradentes estaria enterrada na casa em que morou Bernardo Guimarães, em Ouro Preto.

Em resumo, a história é a seguinte:

A Coroa Portuguesa foi impiedosa com o líder do Movimento da Inconfidência. Mandou esquartejar o corpo de Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes - para tentar inibir o surgimento de outros movimentos de libertação do Brasil de Portugal.

As autoridades portuguesas mandaram para cada canto da Colônia um pedaço do corpo para amedontrar os idealistas da libertação.

A Ouro Preto, capital da Província das Minas Geraes e berço do movimento, foi enviada a cabeça de Tiradentes, num barril de salmoura.

A cabeça foi espetada num mastro em praça pública, sob a guarda de uma sentinela.

Uma noite, a cabeça sumiu e ninguém sabe ao certo o que aconteceu mas existem várias versões.

Segunda uma das versões, contada pelo próprio B.G., um admirador do herói, à noite, roubou a cabeça num momento em que a sentinela dormiu.

"Com uma comprida vara, faz saltar do poste a caveira, apanha-a rapidamente, e de novo desaparece com o favor das trevas e do nevoeiro", escreve B.G. num de seus melhores contos, A Cabeça de Tiradentes.

Esse sorrateiro vulto seria o padre Manuel da Silva Gatto (com esse nome, não se sabe por que autoridades portuguesas não desconfiaram dele...).

Gatto teria escondido a cabeça na copa de sua casa, na parte da cidade que, por coincidência, chama-se Bairro das Cabeças. Casa que depois passou a pertencer à família de Bernardo Guimarães.

O historiador Basílio de Magalhães afirma que o padre Gatto, à beira da morte, entregou a B.G. a cabeça de Tiradentes, a qual teria sido enterrada pelo poeta no quintal da casa.

É possível que a cabeça ainda esteja lá.

segunda-feira, 3 de março de 2014

CRISE NO LESTE: NOVAMENTE, OS TANQUES SÃO O ARGUMENTO DOS RUSSOS

Antes de lerem a entrevista abaixo, de um historiador britânico que entende do assunto, tendo já escrito livros sobre a Ucrânia e a região do Leste Europeu, cujo histórico nos últimos cem anos é importante para entender a atual situação, gostaria de lembrá-los de que intervenções russas são comuns no Leste da Europa, considerados por eles como seu "espaço vital", uma espécie de zona de segurança entre as fronteiras russas e a Europa.

Seguem dois exemplos históricos:

1. Movimento liderado por estudantes reivindica autonomia frente a Moscou e o direito de buscar seus próprios caminhos políticos. HUNGRIA, 1956. Tanques soviéticos esmagam o movimento e governo pró-soviético persegue opositores.



2. Na Tchecoslováquia, em 1968, movimento conhecido como "Primavera de Praga", que também buscava libertar o país da órbita soviética, termina da mesma forma: tropas, tanques, violência e perseguição política





ENTREVISTA:

A crise na Ucrânia é séria demais, diz historiador britânico. Putin não deve se iludir de que tropas russas vão ser bem recebidas.


Tim Snyder, historiador. (Foto Ines Gundersveen)
“Não me surpreendo em nada com o que aconteceu neste sábado,”  afirma, durante uma visita a Viena, o historiador britânico Timothy Snyder. Ele é professor do Departamento de História da Universidade de Yale, em Connecticut,  escreveu dois livros sobre a Ucrânia e tem publicado artigos sobre a crise na antiga república soviética em que alertou para o desfecho de uma intervenção militar.
O livro mais recente de Snyder é  Bloodlands, Europe Between Hitler and Stalin (2010), uma elogiada história do genocídio de 14 milhões de civis praticado em nome de duas utopias, a de classe, por Stalin, e a da raça, por Hitler.
O professor é cauteloso na previsão do desdobramento da decisão de Vladimir Putin de formalizar a intervenção no parlamento russo mas alerta que a crise entrou num território em que algo terrível pode acontecer. A seguir, a entrevista do Professor Snyder ao Estado.
Porque  o senhor classificou, num artigo recente,  a evolução da crise ucraniana de uma guerra de propaganda?
O que aconteceu na Ucrânia foi uma revolução popular contra um autocrata, mas seu governo, com apoio da Rússia, rotulou os manifestantes de fascistas de extrema direita. O governo foi deposto mas a Rússia continua a propagar esta ideia. Chamo a sua atenção para o fato de que, em várias cidades russas já começaram os protestos contra a decisão de Putin. E especialmente destaco o fato de que uma petição assinada por mais de 70 mil membros da população étnica russa dentro da Ucrânia pediu a Putin para não invadir país. Então, é uma falsidade achar que a população que se sente culturalmente ligada à Rússia no leste da Ucrânia está pedindo uma invasão.
Se o senhor não se surpreende com o que aconteceu, qual seria o próximo passo lógico de Putin?
É muito difícil fazer previsões sobre Putin e não vou arriscar aqui. O voto unânime da câmara alta do parlamento russo  autorizando  a intervenção, era previsível. O problema é que, em poucas horas, Putin já foi longe demais, violando dois acordos internacionais. Ele violou o acordo assinado com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha em 1994 de respeitar a independência ucraniana em troca de a Ucrânia abrir mão de seu arsenal nuclear. E, em 2010, A Rússia assinou um acordo para renovar sua base militar em Sevastopol, sob a condição de que suas tropas não poriam as botas fora do perímetro da base.
O senhor concorda com observadores que disseram que a situação na Ucrânia não deve ser comparada a 2008, quando a Rússia invadiu a Geórgia, mas a 1998, quando invadiram a Checoslováquia?
Vejo semelhanças não só nos tanques soviéticos em Praga, em 1998, como na invasão da Hungria, em 1956, especialmente na escalada de propaganda que precedeu as ações. Mas, nós temos memória curta.  Nos dois casos, um movimento reformista num país vizinho começa a ser bem sucedido e a ação militar é justificada como combate à opressão do fascismo. O discurso agora é muito parecido com o da antiga União Soviética. Uma diferença é que não houve revoluções populares como a que vimos na Ucrânia.
Como o senhor responde à pergunta, agora repetida, “voltamos à Guerra Fria?
Não podemos voltar à Guerra Fria porque a China é poderosa demais. A Guerra Fria era bilateral. Além disso, os europeus são mais independentes dos Estados Unidos, com seus 500 milhões de habitantes e seu poder econômico. A outra questão é que a Guerra Fria era sobre política externa. E a escalada da crise ucraniana é um substituto para uma política doméstica. Vladimir Putin precisa de aventuras no exterior porque ele não pode fazer as reformas estruturais necessárias para a Rússia. Putin não terá um legado de reforma interna.
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Barack Obama conversa com Vladimir Putin (Foto Casa Branca)
Como o senhor vê a reação do governo Obama à crise? A oposição republicana usa a Ucrânia como exemplo de que Barack Obama é ingênuo e não inspira respeito de seus adversários no exterior.
Antes de tudo, vamos deixar claro que este não é o momento para politicagem partidária. A crise é séria demais. O Obama não é particularmente interessado na Europa, na herança da Guerra Fria e sua equipe de política externa reflete isto. Acho que foi ingênua a política inicial de “reset” com a Rússia, ainda sob o Medvedev, a ideia de que, se os Estados Unidos se comportarem bem a Rússia faria o mesmo. O Obama não tem sido realista em relação a Moscou nos últimos anos e os russos têm razão quando argumentam que Obama não prestou atenção na Rússia. Onde eles podem se enganar é em subestimar a capacidade de Washington de prestar atenção partir de agora.
O senhor se refere ao poder de retaliação? Se a reação militar é descartada, o que resta?
De novo, não vou arriscar previsões mas não consigo imaginar que a resposta de Obama não vá ser séria. O que ele deve fazer agora é ser discreto e não fazer nada por algum tempo. Mas o Ocidente pode machucar a Rússia e muito, com sanções financeiras. Lembro que toda a oligarquia russa coloca seu dinheiro e educa seus filhos na Europa e nos Estados Unidos. Um cenário em que a elite russa tenha seus bens bloqueados e não possa viajar cria um problema grande para Putin.
Qual é, na sua opinião, o maior risco da crise no momento?
Eu sabia que chegaríamos a este ponto e um dos meus grandes temores é que Putin acredite no que diz a respeito da Ucrânia, que o país não é um Estado ou uma nação real, deve ser parte da Rússia. Mesmo os ucranianos que se identificam mais com a Rússia consideram seu país uma nação soberana. Se Putin acha que as tropas russas vão ser saudadas como liberadoras, a ilusão pode ter consequências terríveis.