domingo, 31 de julho de 2016

A FANTÁSTICA HISTÓRIA DE VITÓRIA WOODHULL

A FANTÁSTICA HISTÓRIA DE VITÓRIA WOODHULL
Guga Chacra
Estado de São Paulo - 28/07/2016
Vitória Woodhull

Hillary Clinton será a primeira mulher candidata de um grande partido a presidente dos Estados Unidos. Isto é, a primeira a concorrer para a Presidência pelo partido Democrata ou Republicano. Mas outras mulheres já disputaram a Casa Branca no passado.
A primeira delas foi Victoria California Woodhull, em 1872. Na época, mulheres não podiam votar nos EUA. E o objetivo dela era justamente que as mulheres tivessem os mesmos direitos dos homens, incluindo o voto. Tanto que ela criou e concorreu pelo Partido dos Direitos Iguais. Seu vice foi o ex-escravo e abolicionista Frederick Douglas, embora este nunca tenha aceitado concorrer ao cargo.
                                  Frederick Douglas
Victoria, na época, tinha só 34 anos. Teria 35, idade mínima para ocupar a Presidência, no dia da posse. No dia da eleição, não pôde votar. Primeiro, por ser mulher. Em segundo lugar, por ter sido presa ao chamar um pastor de adúltero hipócrita quando este a chamou de indecente. Ficou um mês na cadeia.
Não há registros de quantos votos ela teve. Certamente, não teve nenhum no Colégio Eleitoral. Mas deixou sua marca. Mais impressionante é o restante da sua história. Seu pai era um criminoso trapaceiro em Ohio. Sua mãe era analfabeta. Ela, que era a sétima de dez irmãos, estudou por apenas três anos e, aos 15, foi obrigada a se casar com um médico charlatão bêbado. Um dos seus filhos nasceu com deficiência mental. Posteriormente, se divorciou e casou com um coronel. Foi morar em Nova York.
Sua irmã teve como amante o magnata Cornelius Vanderbilt. Junto com ela, Victoria foi a primeira corretora de valores em Wall Street. Ambas abriram um fundo e operavam na Bolsa de Valores. Foram chamadas pelo New York Herald de “rainhas das finanças”. Também foi a primeira mulher a fundar um jornal. Vitoria também defendia o direito ao divórcio e pregava a liberdade sexual e casamentos entre negros e brancos ou de judeus e cristãos. Era defensora ainda do vegetarianismo e do uso de minissaias.
Morreu aos 88 anos na Inglaterra, onde vivia e havia se casado pela terceira vez, agora com um banqueiro. Nunca pôde votar para presidente dos EUA. Afinal, o direito ao voto para as mulheres demorou mais meio século depois de sua candidatura.

Eu descobri a história dela hoje e fiquei encantado.

sábado, 23 de julho de 2016

O QUE PENSO SOBRE O BREXIT

Muitos alunos tem me procurado ou mandado mensagens pedindo que eu escrevesse o que penso sobre o chamado "Brexit", ou seja, sobre o plebiscito que definiu a saída do Reino Unido da União Européia.
Antes de mais nada, vamos fazer um breve histórico sobre a relação do Reino Unido com a União Européia.
No final dos anos 80 e início dos anos 90, a Europa passava por um processo de construção e desconstrução. A Europa da Guerra Fria ruía, com a queda do Muro de Berlim, a reunificação da Alemanha. O fim da URSS e da "Cortina de Ferro" trazia novas perspectivas para a Europa.
A Europa havia se reconstruído, após a Segunda Guerra Mundial, e um dos instrumentos importantes para isso foi a progressiva integração do continente. Começou com acordos como o Benelux, nos anos 50 e evoluiu para a Comunidade Econômica Européia, nos anos 70.
A Crise Econômica dos anos 80, expôs os problemas do modelo do "wellfair state", que predominou na Europa Ocidental após a guerra. Estados inchados, pesados e deficitários, impulsionavam reformas em vários países, como a França e o próprio Reino Unido, comandado por Margareth Tatcher.
Nessa perspectiva, as ideias de ampliação de áreas de livre circulação de moeda, pessoas e produtos, surgia como uma proposta para fortalecer todo o continente, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista geopolítico, com a Europa emergindo, a partir de uma União Aduaneira e a caminho de uma inusitada e quase utópica União Política, novamente como protagonista, agora em uma Nova Ordem Mundial, que se apresentava como multipolar.
O Reino Unido, sob o comando de Thatcher, tinha posição ambígua com relação à esse processo: defendia e apoiava as liberdades econômicas, como fez em 1975, quando ela e os conservadores apoiaram o "SIM" à manutenção do Reino Unido na Comunidade Econômica Européia, mas, tinha sérias restrições quanto ao processo de ampliação para outros setores, principalmente quanto à união política que, na opinião dela, ameaçava a soberania de seu país.


                  (Thatcher fazendo campanha a favor da entrada do RU no MCE, em 1975)

Pois bem. Guardemos então essa informação: setores políticos e sociais do Reino Unido sempre tiveram um pé atrás com o avanço das discussões que envolviam a União Européia no que tange a questões de soberania nacional, mas, desejavam os benefícios econômicos que ela podia trazer.
Quando foi criada a Zona do Euro, a moeda única européia, mais uma vez o Reino Unido se apresentava dividido e a solução para mantê-los no bloco foi aceitar uma situação de exceção, assim estendida também à Dinamarca; aceitam a circulação do Euro em suas economias, mas mantém suas moedas, Banco Central próprio e autonomia quanto à política monetária. Situação prevista pelo Tratado de Maastricht.
Da mesma forma, o Reino Unido se posicionou quanto ao "Espaço Schengen". O Espaço Schengen, acordo que determina a abertura de fronteiras entre os países signatários foi vinculado à União Européia em 1997, podendo os Estados Membros optarem por aderir ou não a ele. O Espaço Schengen tem como objetivo criar políticas comuns de imigração, concessão de vistos, ordem pública e segurança nacional. O Reino Unido se posicionou apenas como colaborador em caso de questões policiais e judiciais, mas não aceita regras comuns de imigração, fronteiras, concessão de vistos e segurança nacional. (Veja o mapa abaixo).




                                       (Schengen Zone)

Nos últimos vinte anos, como sabemos, a geopolítica mundial mudou bastante. A União Européia mudou junto com ela. Nos anos 70, quando o processo de integração começou, eram 9 países membros. Hoje, são 28, e novos países aguardam confirmação de ingresso.
A imigração passou a ser um dos grandes problemas que a UE enfrenta, nos últimos anos, e certamente é uma questão central nos desentendimentos entre os países membros. O Reino Unido, apesar de não ser signatário do Espaço Schengen e portanto das políticas do bloco quanto à imigração e circulação de pessoas entre os países membros, sente-se pressionado a se envolver e participar dos debates e das decisões quanto aos milhões de imigrantes que buscam a UE, vindos principalmente da África e do Oriente Médio - mas não somente destes, já que há milhares de latino-americanos, asiáticos. e também russos e demais países do Leste da Europa. 
Apesar de não participar das cotas estabelecidas pela UE para os países membros, é comum vermos centenas e centenas de imigrantes tentarem migrar para o Reino Unido através da França e do Eurotúnel.  As comunidades de imigrantes no Reino Unido aumentam a cada ano, tornando este um dos pontos centrais da pressão política que gerou o recente plebiscito, que já era promessa de campanha do primeiro-ministro David Cameron. Portanto, há sim, um conteúdo xenófobo por trás do crescimento do apoio à saída do Reino Unido da UE, especialmente se observarmos que o grande empenhado no apoio ao "Leave", foi o Partido Nacionalista do Reino Unido e o aplauso ao resultado do plebiscito veio também dos ultranacionalistas da Europa, como a Deputada Le Pen, da França.
Outro argumento muito usado durante as campanha pelo "Leave or Remain" foi o excesso de regulamentação e intervenção em questões econômicas e políticas sociais da UE. Os defensores do "Leave" afirmam que a participação na UE dificulta acordos paralelos e mais vantajosos para o Reino Unido. Esse argumento, entretanto, me parece apenas cortina de fumaça, uma vez que o Reino Unido não está submetido a todas as determinações da UE, desde seu ingresso. Goza de situação especial, que condicionou a sua entrada não só na UE mas desde a Comunidade Econômica Européia nos anos 70. E soa ainda mais frágil esse argumento quando se investigam as principais relações econômicas do reino Unido, que são os EUA e a própria UE.



Finalmente, queria observar que a saída do Reino Unido da UE, por suas próprias condições de ingresso e pelas características econômicas já citadas, não constitui uma tragédia, nem para o Reino Unido, nem para a UE, a princípio.
O que mais importa no BREXIT são os desdobramentos dele. Imagino que isso vá trazer uma onda de questionamentos semelhantes, a começar pelo próprio Reino Unido. Imediatamente após o resultado das urnas, a Escócia já declaração sua intenção de permanecer na UE e até mesmo separar-se do Reino Unido para isso, se necessário. Poucos anos atrás, a Escócia realizou um plebiscito pela permanência ou não do país na Reino Unido. O resultado foi apertado e um dos argumentos dos que votaram A FAVOR da permanência no Reino Unido foi exatamente a permanência da Escócia da UE.
Além disso, toda a Europa pode viver uma onda nacionalista, estimulada por esse resultado e pelas preocupações nacionalistas e xenófobas que tem aumentado na mesma proporção dos atentados, cada vez mais comuns, e ligados a imigrantes, especialmente do Oriente Médio.
Em resumo, nada apocalíptico, mas com certeza aponta para uma possível Novíssima Ordem Mundial, na minha opinião, e não há como prever para onde essa "Novíssima Ordem" caminhará, E é exatamente isso que traz toda essa angústia e preocupação que vemos pelo mundo afora.


segunda-feira, 6 de junho de 2016

07 PERGUNTAS QUE VC PROVAVELMENTE SE FAZ SOBRE O RAMADÃ, MÊS SAGRADO PARA OS MUÇULMANOS


7 perguntas que você provavemente se faz sobre o ramadã, mês sagrado para os muçulmanos

POR DIOGO BERCITO


Começa hoje ao redor do mundo o mês sagrado do ramadã, durante o qual muçulmanos jejuam entre o nascer e o pôr do Sol. É um período importantíssimo em países islâmicos não apenas como ritual religioso, mas também como tradição cultural. Há uma série de costumes típicos desse período, e também pratos específicos para o desjejum.
Mas o que significa tudo isso, e por que afinal muçulmanos –mais de 20% da população mundial– deixam de alimentar-se durante este mês? O Mundialíssimo blog responde abaixo a sete perguntas sobre o ramadã, para quem nunca entendeu do que se trata essa tradição.
O que muçulmanos celebram durante o mês do ramadã?
O mês do ramadã marca o período durante o qual o Alcorão, o livro sagrado do islã, foi revelado ao profeta Maomé no século 7. O Alcorão tem um papel central na religião muçulmana, e seu surgimento é um marco da história dos povos árabes. O período anterior ao islã é conhecido, em árabe, como “ignorância”.
O que acontece durante esse período?
O jejum durante o ramadã é um dos cinco pilares do islã, e exigido de muçulmanos praticantes. O mês é marcado também pela abstenção do sexo durante o dia e pelas boas ações. Há pessoas que não seguem a tradição, a depender da família e do indivíduo, mas em países conservadores é de bom tom não comer ou beber nada em público. Diversos estabelecimentos fecham, ou modificam seus horários de atendimento, alterando toda a rotina da comunidade.
Todo o mundo MESMO precisa jejuar?
Não. Há uma série de isenções, como aos idosos, aos enfermos, às crianças e às mulheres grávidas ou em período de menstruação. O jejum tem efeitos na saúde, e pode ser perigoso de acordo com a pessoa. Períodos mais curtos de sono também preocupam a comunidade médica durante esse mês.
Deve ser uma loucura na hora de quebrar o jejum, quando anoitece…
As refeições pós-ramadã, chamadas “iftar”, são conhecidas pela fartura. A maneira tradicional de começar o desjejum é beber água e comer tâmaras. Há também uma bebida típica chamada Qamar al-Din, preparada a partir de uma pasta de damasco. Há rezas específicas, e leituras de trechos do Alcorão. Mesquitas organizam banquetes públicos, durante o mês. A refeição pela manhã antes do jejum, chamada “suhur”, é também tradicional.
Mas por que tudo isso?
A ideia é lembrar os fiéis das agruras daqueles que sofrem durante o restante do ano. O islã tem um forte componente comunitário. Também se espera que o muçulmano se aproxime da religião, durante o mês do ramadã. Como efeito colateral do longo tempo passado em casa, o número de espectadores de televisão atinge recordes, e as telenovelas de ramadã são um fenômeno cultural em países como o Egito e a Turquia.
Quando exatamente é o ramadã?
Depende. O calendário islâmico é lunar, e não solar. Isso significa que os meses variam em relação ao calendário gregoriano que usamos, por exemplo, no Brasil. O ramadã só começa quando a lua nova é vista nos céus, e dura entre 29 e 30 dias, de acordo com a rede de TV árabe Al Jazeera. A cada ano, o mês se inicia cerca de 11 dias mais cedo.
A variação da data é importante?
Sim. Imagine que, durante este mês, os muçulmanos que respeitem a tradição do ramadã não poderão comer ou beber nada entre o nascer e o pôr do Sol. É um cenário bastante difícil quando o ramadã coincide com o verão. O Cairo tem registrado temperaturas acima dos 40º C, e os dias são mais longos nesta época do ano. Segundo o jornal britânico “Guardian”, este ramadã será especialmente complicado no hemisfério norte. Na Espanha, por exemplo, o jejum vai durar cerca de 17 horas.