segunda-feira, 30 de abril de 2012

A CURIOSA HISTÓRIA DOS GIGANTES DO MAR

A CURIOSA HISTÓRIA DE TRÊS GIGANTES

No início do século XX, a Europa vivia as contradições da Belle Epoque. De um lado, luxo, riqueza, progresso econômico e técnico. De outro lado, “o cheiro de pólvora no ar”, como diria, anos mais tarde, o poeta Maiakovski.
O transporte de passageiros era uma das vedetes da sede de poder e glória europeia. Numa época em que os irmãos Wright (não me venham falar em Santos Dummont, por favor) ainda lutavam para emplacar sua invenção, conseguindo os primeiros contratos comerciais e deixando os europeus boquiabertos com seus recordes, o transporte aéreo de longa distância ainda era apenas uma possibilidade. Muitos apostavam nos dirigíveis, que também teriam sua efêmera glória, até o acidente com o Hindenburg, nos anos 30.
Nesta época, as grandes estrelas eram os navios. A principal potência militar e econômica do mundo, dominava os mares com seus gigantes, superando os concorrentes franceses e alemães.
Em 1906, a Cunard Line, grande empresa de transportes navais inglesa, lançava o que seria, por algum tempo o , mais rápido e mais luxuoso navio do mundo: RMS Mauretania. Movido pelas revolucionárias (para a época) turbinas a vapor.

O MAURETANEA (como navio hospital):



No ano seguinte, era lançado aos mares seu irmão gêmeo, o RMS Lusitânia.
A Companhia White Star Line, concorrente da Cunard, decidiu então lançar os maiores titãs que o mundo jamais vira: maiores, mais luxuosos, mais rápidos e... inafundáveis. Nasciam assim os três irmãos: RMS Olympic, lançado em 1908, o RMS Titanic, lançado em 1909, e o HMHS Gigantic (nome original do navio, depois rebatizado de Britannic), lançado em 1914, meses antes da guerra.
Interessante é acompanhar a trajetória desses navios. Trajetória que nos mostra, não só o fim de uma era, mas também o fim de algumas das teses que iluminaram essa época.

O LUSITÂNIA:


No final do século XIX, era impressionante o progresso técnico na Europa e no mundo. O mundo veria o telégrafo sem fio, unindo as invenções de Morse e as experiências com ondas de rádio de Marconi, agilizando ainda mais a comunicação. Nascia a Era da Eletricidade, Thomas Edson e sua lâmpada, Tesla e os sistemas de transmissão. Surgiam os motores a explosão e os automóveis; surgia o cinema e o “fonógrafo”. As feiras de ciência se tornaram uma febre mundial. A Torre Eiffel é um dos símbolos dessa era, construída para a Exposição Universal de Paris (1889).
A euforia era tanta, que, no final do século XIX, cientistas, políticos e profetas de plantão chegaram a afirmar que a ciência iria resolver todos – repito, TODOS os problemas do mundo, das doenças, passando pela fome e chegando à conquista do espaço. É o que poderíamos chamar de a “Era Júlio Verne”... Ou o que a arte identificou no revolucionário “Metrópoles” de Fritz Lang (1927)
É neste clima , contraditório não só pelo fantasma da guerra, mas pela pobreza de milhões que migravam para a América ou para as colônias europeias da África e da Ásia, e que também trabalhavam anonimamente, sob péssimas condições e incansavelmente, nos estaleiros e nas infernais caldeiras a vapor, que nasceram os três irmãos: Olympic, Titanic e Gigantic (ou Britannic).
Lançado em 1908, o Olympic, irmão mais velho, junto com seu concorrente, o Mauretania, foram os que tiveram vida mais longa. O Olympic começou a operar comercialmente em 1911. Em 1912, voltou ao dique para reformas de segurança, em função do impacto mundial provocado pelo naufrágio do Titanic, seu irmão mais novo. Navegou comercialmente até 1915, quando foi requisitado como transporte de tropas e cargas pelo almirantado britânico. Resistiu a tudo: foi abalroado por um navio de guerra e atacado por submarinos por diversas vezes. Em 1918, voltando de uma viagem , foi atacado por um submarino. O comandante conseguiu evitar o torpedo e fazer uma manobra de ataque, abalroando e afundando seu agressor sob o peso de suas milhões de toneladas de aço. Chegou ao porto com algumas chapas tortas, mas, sem fazer água.

O OLYMPIC, irmão menos famoso, mas que "viveu" bem mais do que TITANIC:



Depois da guerra, voltou a operar comercialmente, mas, o mundo já não era mais o mesmo. Nos anos 30, a decadência da “Era dos Transatlânticos”, levou o Olympic finalmente a ser vendido e desmontado. Peças de decoração, sinos, e outras partes do Olympic até hoje andam por aí, navegando em outros navios.
O Titanic, seu irmão mais novo e mais famoso, teve o fim que todos conhecemos, em sua primeira grande viagem. É importante lembrar, que o naufrágio do Titanic teve imensa repercussão nas leis de navegação, nas exigências internacionais de segurança para passageiros no mar e também para a construção naval.

O TITANIC:



O caçula dos irmãos, o Gigantic, seria lançado em 1913, mas, teve sua produção interrompida pelo naufrágio do Titanic. O navio foi remodelado, teve reforçada sua blindagem, seus sistemas de segurança passageiros, e seus sistemas de portas estanques, por exemplo. Foi lançado em 1915, com o nome de Britannic, servindo como navio-hospital, durante a WWI. Em 1916, o navio atingiu uma mina aquática no mar Egeu, e uma sucessão de erros humanos e mecânicos (segundo o almirantado britânico) levaram o imenso navio a pique em apenas 55 minutos (lembrando que o Titanic levou mais de duas horas para afundar).

O BRITANNIC (como navio hospital), o Caçula dos Titãs:


Os concorrentes do Titanic, do Olympic e do Gigantic (ou Britannic), também tiveram vidas opostas. O Lusitânia foi atingido por um torpedo alemão, próximo à Inglaterra, em 1915, matando mais de 600 pessoas, a maioria norte-americanos (desculpem, mas, tenho horror do politicamente correto “estadunidense”). Esse naufrágio foi um dos motivos que levou os EUA à guerra, tempos depois.
Já o Mauretanea, também serviu como navio de passageiros até 1915. De 1915 a 1920, serviu como navio-hospital, na marinha britânica. Voltou ao serviço de passageiros até 1935, quando foi “aposentado”, como o Olympic. Partes do Mauretania ainda singram os mares do mundo.
Seja como for, de uma forma ou de outra, abraçados pelas águas, ou decorando deques, esses grandes navios, símbolos de uma época, fizeram história: mataram, salvaram, deslumbraram e alimentaram sonhos. E estão guardados, para sempre, no coração dos oceanos.

Murilo Cisalpino
Abril de 2012 – ano do centenário do naufrágio do Titanic
Texto dedicado ao meu amigo e colega, prof. Luís Otávio.

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