sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Nacionalismo Burro




No final dos anos 60, início dos anos 70, a esquerda brasileira fazia críticas a Caetano Veloso. O motivo: Caetano Veloso usava guitarra, instrumentos eletrônicos, em suas composições e apresentações. Além disso, suas letras pouco óbvias, ou pelo menos não previsíveis diante dos manuais "politicamente corretos", "engajados" da música de protesto, em tempos de ditadura militar irritavam os pseudo-profetas do proletariado.
Acho Caetano Veloso uma besta política, infelizmente, mas também o considero como um músico excepcional e também um dos maiores poetas da língua portuguesa.
Pois bem, Caetano era, para os "engajados", um vendido ao imperialismo ianque, um sujeito que traia suas raízes - e ainda por cima fazia parcerias e cantava músicas de Roberto Carlos (Crime! Crime! Roberto Carlos, a Jovem Guarda em geral, futebol (que ironia, hein, petistas?) e o Chacrinha eram produtos da cultura consumista, alienada e norte-americanizada.
Conheci muita gente que tinha vergonha de falar que gostava do trabalho de Caetano Veloso. Temiam sofrer o ódio sempre irracional das patrulhas ideológicas dos "intelectuais de esquerda" (lá, como cá, qualquer um que soubesse duas ou três frases ou conceitos marxistas, era um gênio político).
Caetano viveu vários momentos complicados por causa dessa perseguição. O momento mais famoso, ou pelo menos um dos momentos em que ele perdeu a paciência, foi a vaia que recebeu dos "engajados" estudantes em um festival, e ali mesmo deu o troco:

"Se vocês foram em política como são em estética, estamos feitos"!

Vejam um desses momentos aqui: (a boa e realmente velha intolerância dos politicamente corretos). A vaia era para as guitarras e para os Mutantes ("entreguistas", "roqueiros vendidos aos ianques", mimimi...)


O tempo passou, mas os velhos jargões e raciocínios embolorados dos "engajados" continuam os mesmos. O mesmo e carcomido nacionalismo burro e por vezes criminoso contra o próprio povo brasileiro, continua nas "cabeças e nas bocas". Caetano talvez tenha se esquecido disso ou tenha se rendido a isso e anda batendo palminha com essa claque irracional.
O alvo agora é o jovem cantor que venceu o programa "The Voice Brasil". O rapaz cantou no The Voice nos EUA, mas não foi classificado. Daí, os gênios "engajados" da esquerda hidrófoba e xenófoba brasileira, começam a dizer que um artista que foi "rejeitado" nos EUA não pode vencer um programa no Brasil - "não aceitamos refugos do Tio Sam" - Sam, o tio, não o cantor. Dizem que o rapaz "só canta em inglês" (apesar de ter se apresentado DIVERSAS vezes cantando em português ao longo do programa)
A senhora Zélia Duncan aparece criticando o rapaz: "Não canta nada". Tudo bem, entende-se que talvez seja uma oportunidade para a dita senhora sair do ostracismo em que se encontra. Ou talvez seja inveja mesmo, já que o rapaz tem uma extensão vocal muito mais interessante do que a dela.
Queiram ou não, o rapaz venceu. Quem votou nele foram os cidadãos brasileiros que se dispuseram a ligar para a emissora. Claro que as teorias conspiratórias também já começaram: não se imagina o Brasil sem isso - é um traço cultural, acredito.
Mas o que me move a escrever é a notável burrice dos "engajados" deste país. Somente eles, e talvez seus piolhos, acreditam que são A OPINIÃO do Brasil. Há décadas e décadas tenta vender ao Brasil um Brasil que o Brasil não quer (sejamos redundantes, pra ver se entendem)
Rogo para que continue assim. Este "Brasil dos Engajados" é um país pequeno, medíocre, que olha para os próprios pés em busca de respostas que estão no horizonte.
Nacionalismo é querer o melhor para o seu país e para seus compatriotas. Criticar o que você vê de errado em seu país e apontar experiências positivas e bem sucedidas em outros países, não é ser "entreguista": é ser lúcido, é colocar o bem estar das pessoas acima de suas convicções políticas. Quando suas convicções políticas começam a matar ou calar o que pode ser melhor para todos - sinto dizer: você é o reacionário, prezado "engajado progressista".
Parabéns ao rapaz, que aproveite seu prêmio e a oportunidade para turbinar a carreira. Se ele não cantasse em inglês e fosse o preferido do nacionalismo tacanho do Caxirola Carlinhos Brown (Brown? Um vendido ianque, será?) talvez estivessem exaltando um brasileiro que foi abandonado ainda criança, numa caixinha, criado pelas pessoas que o acolheram, deu a volta por cima e alcança o merecido sucesso, sem empreguinho público e sem ser amigo do Chico Buarque.