segunda-feira, 15 de abril de 2013

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL - A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA NA BAHIA

Nosso processo de independência nasceu, não de um projeto de nação propriamente, e muito menos de uma mobilização popular, coisa pouco provável dentro daquela estrutura profundamente desigual do Reino Unido do Brasil.
O contexto que envolve a Independência conta com algumas situações conjunturais que levaram progressivamente ao enfrentamento entre brasileiros e portugueses.
Inicialmente, precisamos considerar que, a ideia de Independência não era nem de perto um consenso mesmos entre os brasileiros. Parte considerável dos brasileiros, direta ou indiretamente envolvidos em atividades econômicas de exportação - dentro da tradição aqui construída desde o início da colonização, eram favoráveis à manutenção dos vínculos com Portugal, em termos mais adequados ao Brasil.
Este, inclusive, era o projeto pessoal de Dom João VI: o "Império Atlântico", a inserção definitiva do Brasil na vida de Portugal, como Reino Unido. Esta foi sua intenção durante o período em que aqui esteve, entre 1808 e 1821.
Dom João construiu, no Rio de Janeiro, uma cidade "européia", com equipamentos e instituições negadas a uma colônia portuguesa, como tribunais, escolas superiores, fábrica de pólvora, instituições de pesquisa, instituições financeiras, portos abertos ao comércio com qualquer país com os quais Portugal mantinha relações naquele momento (claro, privilegiando os ingleses, que tiveram papel importante tanto na proteção à família real, quanto da desocupação de Portugal pelas tropas francesas), como atestam os Tratados de Amizade, Navegação e Comércio.
Essa nova situação, ratificada pela elevação do Brasil à condição de Reino Unido, em 1815, útil também para que D. João VI não deixasse o Brasil para assumir o trono português após o Congresso de Viena, entretanto, não mudava as condições em que a maioria da população vivia e muito menos mudava o quadro de divisão política: alguns em busca de mudanças profundas, alguns em busca de independência, alguns em busca de mudanças em Portugal que favorecessem o Brasil ou ampliassem a participação política, especialmente das elites econômicas, já que Portugal era ainda um país absolutista. Em Portugal, a situação política era ainda mais complexa: além das lutas por maior participação política, havia insatisfação com a autonomia do Brasil, considerada pela maioria como prejudicial ao país, e insatisfação com um rei que governava do Brasil, que parecia "recusar" a volta a Portugal, e que deixava seu próprio país sendo governado, literalmente, pelos ingleses.
O fato é que toda essa gama de interesses políticos e econômicos diversos explode e se precipita em 1820-1821, com a Revolução Liberal do Porto.
O que aconteceu é que D.João não teve mais como evitar sua volta a Portugal. O movimento colocava as cortes provisoriamente no poder, até que um parlamento assumisse definitivamente, e limitava os poderes do rei com a elaboração de uma Constituição.
D, Pedro, príncipe herdeiro é agora também príncipe regente do Brasil. Aqui, há duas reações: parte do grande número de portugueses que aqui residiam e/ou prestavam serviços (funcionários públicos e militares, por exemplo) defendia a permanência no poder de D.João com poderes totais, mas a maioria apoiava o movimento liberal do Porto.
O mais interessante é que os brasileiros, em grande parte, também defendiam e apoiavam o movimento liberal do Porto, visto por eles como um momento importante para construir uma nova estrutura política, com representação brasileira no futuro parlamento português, defendendo mais de perto nossos interesses. Acreditavam que o fim do absolutismo era benéfico também para o Brasil. Estes, inclusive, não reconheciam também o poder político do príncipe regente D. Pedro.
O príncipe regente tentava navegar nessas águas de forma diplomática, ao mesmo tempo evitando confrontos com brasileiros e portugueses, e procurando afirmar e garantir seu poder político sobre o Brasil.
Tudo muda, entretanto, quando a política das cortes portuguesas se mostra amplamente desfavorável ao Brasil: a "recolonização", o fechamento dos portos, o restabelecimento do exclusivo comercial português.
Os que apoiaram os liberais do Porto, agora se revoltavam contra estes. E é nesse momento que o príncipe regente surge como a opção da maioria dos brasileiros.
D. Pedro, em sua luta para manter o poder sobre o Brasil, contava agora com apoio maciço das elites econômicas brasileiras, contrárias à recolonização. Em Portugal, agrupados em torno do irmão mais novo de D. Pedro, D. Miguel, os conservadores também lutavam contra os liberais.
A queda de braço entre Portugal e o príncipe regente começava com o "Dia do Fico", em janeiro de 1822, e vai se agravando até a impossibilidade de negociação entre ambos, em setembro.
A partir da "Proclamação", em setembro de 1822, partimos para o enfrentamento, entre os que defendiam os interesses do governo português e os que defendiam uma independência liderada por um príncipe português ´desde já, portanto, uma independência de "pé quebrado", já que excluía qualquer outro projeto que implicasse mudanças mais significativas para o Brasil e a esmagadora maioria dos brasileiros.
A forte e violenta reação dos portugueses em algumas províncias brasileiras, como na Bahia, no Maranhão, no Grão-Pará e até mesmo no Rio de Janeiro, fez com que o príncipe regente contratasse mercenários para lutar pela independência: franceses, ingleses e até mesmo portugueses que optaram por seu liderança.
Nesta circunstância, é que se destaca, por exemplo, o processo de Independência na Bahia. Os portugueses fiéis ao governo da Revolução do Porto, ocupam a cidade de Salvador. Travam uma guerra de perseguição e violência desmedida contra os habitantes da cidade, fosse quem fosse, vistos como "traidores".
É, literalmente, um conflito de independência: brasileiros contra portugueses. E essa luta ganha, por isso, inusitados contornos populares.
Caboclos, escravos libertos, quilombolas, populares de um modo geral, somam-se às tropas milicianas, aos mercenários enviados por D.Pedro, e travam uma luta, muitas vezes cotidiana e com perfil de guerrilha, contra os portugueses que se veem sitiados em Salvador. Na terra, pelos brasileiros que controlavam a estrada dos bois, em Pirajá, principal acesso à cidade, e no mar pelos navios enviados pelo príncipe regente e por um frota voluntária de barcos pesqueiros e outras embarcações dos locais, que cooperavam para impedir o acesso de reforços e alimentos à cidade, ocupada pelos portugueses
Em diversas batalhas regulares e em escaramuças por toda a cidade, com destaque para o movimento do "Mata-Maroto" (maroto = marinheiros, como eram chamados os portugueses), para a participação intensa da população, inclusive de mulheres, como Maria Quitéria, os brasileiros resistem, acuam e minam as forças portuguesas que finalmente acabam por se retirarem no dia 02 de julho de 1823, data até hoje muito comemorada na Bahia.
Toda essa história, em muito desconhecida dos brasileiros, faz da Bahia um dos poucos exemplos da luta por uma independência de fato; faz da Bahia um berço de um sentimento genuíno de brasilidade (ou de baianidade), de identidade entre a população e sua pátria - seja a cidade, seja a Bahia, seja o país que nascia.
Desfiles e comemorações de grande apelo popular, até hoje marcam o 02 de julho na Bahia, em contraponto com comemorações mornas ou meramente político-militares na maior parte do Brasil.
Fique com um pouco dessa importante história, através deste vídeo que postamos a seguir, como reflexão sobre esse importante momento da nossa história. Muitos por personagens importantes são aqui citados, como o corneteiro Lopes que mudou a história da batalha de Pirajá ao tocar o toque de "avançar" no lugar de "recuar"; Maria Quitéria, a mulher que fingiu ser homem para lutar pelos brasileiros; Joana Angélica, a madre que foi morta pelos portugueses, os generais, envolvidos, o clima na cidade... Divirtam-se e pesquisem mais sobre o tema



Outro bom documentário vc pode encontrar aqui:

http://www.irdeb.ba.gov.br/tve/catalogo/media/view/2121




quarta-feira, 10 de abril de 2013

A MENTE REVOLUCIONÁRIA E A DICOTOMIA ENTRE ESQUERDA E DIREITA PARTE I


A mente revolucionária e a dicotomia entre esquerda e direita –parte I

debate
A morte de Hugo Chávez, o blog de Yoani Sánchez, os embates partidários no Brasil – e em qualquer lugar no mundo, diga-se de passagem – alertam sobre a relevância de uma antiga discussão: os conceitos de esquerda e de direita ainda fazem sentido? O que eles ainda denotam? Depois do fim da União Soviética, esses conceitos têm sido suavizados e até negados por parte da mídia, por intelectuais e por políticos. Seriam conceitos ultrapassados e tributários da lógica da Guerra Fria – e já não mais corresponderiam ao mundo pós-ideológico. Mas, convenhamos: é ainda muito cedo para proclamar a morte das ideologias. A dicotomia entre esquerda e direita nunca foi enterrada. Ela ainda pauta visões de mundo e distingue lados opostos em qualquer debate político. Ela vive – mais pujantemente em alguns lugares, menos em outros. Mas é fato: vive.
O que significa ser de direita e ser de esquerda nesse começo de século XXI? Opor socialismo ao capitalismo? Há ainda quem o faça. Mas há também quem afirme que essa discussão não faz mais sentido. Afinal, o socialismo, como alternativa econômica, teria acabado. Talvez. Mas não chegou ao fim uma discussão importante que está circunscrita a essa disputa ideológica: como podemos superar a pobreza e promover o desenvolvimento econômico e a justiça social? É ainda possível – ou necessário – construir e implementar um projeto político, que abrangerá toda a sociedade, para atingir esses objetivos? Em outras palavras: é ainda possível – ou necessário – lutar pela revolução? As respostas divergem.
Em toda a minha breve vida (tenho 26 anos), não foram poucos os professores, intelectuais, acadêmicos e artistas que tentaram me convencer de uma verdade simples: as mazelas do mundo, da pobreza à ignorância, possuem no capitalismo sua origem. Esse sistema de produção, fundamentado no lucro e na exploração do trabalho, condena milhões de pessoas à pobreza e à alienação. Não seria difícil perceber essa verdade, principalmente em países como o Brasil: bastaria olhar as ruas e ver os miseráveis, as favelas, as crianças em lixões, os idosos desamparados e todo o sofrimento que os acompanha. Enquanto isso, há alguns poucos ricos com seus grandes carros, apartamentos luxuosos, mansões cercadas com muros altos e toda a bonança de bens e serviços à disposição de quem tem dinheiro. A conclusão? As desigualdades sociais estão na raiz de todos os problemas. Superá-las é nosso dever e nossa obrigação moral, se quisermos um mundo mais justo. E um mundo justo, sem divisões de classes, sem pobreza e sem sofrimentos desnecessários é um sonho pelo qual vale lutar. Ou não?
Não. Não da forma como essa análise acima sugere. É possível superar a pobreza e as desigualdades. É possível reduzir o sofrimento humano e dar acesso a bens e serviços, como saúde e educação, a grande parte da população – ou a toda população. É possível atingir o desenvolvimento econômico. É possível promover a inclusão social. Diversos países conseguiram isso. Mas o desenvolvimento econômico e social nunca foi e nunca será atingido por meio da reinvenção da sociedade. Nada disso foi – ou será – atingido por meio de qualquer outro projeto político utópico e revolucionário.
Os países que superaram a pobreza, que atingiram elevados índices de desenvolvimento humano, que possuem elevada renda, não o fizeram por meio da construção de uma sociedade planejada. Conseguiram superar essas mazelas sociais por meio da ampliação da liberdade econômica e da participação política; do respeito ao estado de direito; e de regras claras e válidas para todos. Diversos países conseguiram desenvolver-se economicamente e socialmente porque construíram instituições políticas e econômicas inclusivas – e assim ampliaram as chances de cada indivíduo prosperar por meio de seus esforços e de seus empreendimentos. Além disso, com a riqueza produzida, puderam oferecer aos mais necessitados uma rede de proteção. Essas mudanças não tiveram origem no planejamento social ou na brilhante mente revolucionária de um líder.
A história – principalmente a história do século XX – ensinou que não há nada mais opressor do que as tentativas de impor, de cima para baixo, um projeto político cujo objetivo é transformar a humanidade. A necessidade de criar o novo homem e de promover o bem comum estão nas raízes de todos os totalitarismos do século passado. Criar nova sociedade por meio de um projeto sempre exigirá que se esvaziem dos indivíduos todas as suas verdades e necessidades “egoístas” em nome da coletividade, que será representada por um partido ou por um condutor das massas – em certos casos, por ambos.
Convém lembrar que não existe regime de força que tenha se instalado sem prometer promover o bem comum. No entanto, não existe um “bem comum” unicamente determinado com o qual todas as pessoas concordam ou sejam levadas a concordar. Isso se deve, principalmente, ao fato de o “povo” não ser uma unidade produtora de desejos. Os desejos emergem dos indivíduos. São os indivíduos que pensam, sentem e expressam suas vontades, muitas vezes organizados em grupos, ao passo que o “povo” é uma categoria sociológica, uma forma de designar um aglomerado de indivíduos em convívio coletivo. Para destacar um bem comum – ou um “interesse comum” – seria necessário, portanto, circunscrever em único valor a expressão de cada um dos diferentes desejos dos indivíduos que ali estão organizados. O fato de um interesse ser compartilhado por um grupo de indivíduos não faz dele um “interesse comum”, pois, para que isso fosse possível, seria necessário ignorar dissidências ou tomar a opinião de determinado grupo, ou até da maioria, como totalizadora. É possível, por exemplo, recorrer às maiorias quando se escolhe entre alternativas limitadas – tal como na eleição de um governante. Entretanto, acreditar que haverá sempre uma opinião comum sobre todas as coisas não é racional.
Dessa forma, uma vez que não se pode determinar um “bem comum” em torno do qual são estabelecidas as preferências individuais, não podemos chegar à ideia de uma “vontade geral” ou de um “plano coletivo” capaz de guiar os rumos de uma sociedade. Cada um que fala em nome dessa “vontade geral” tem sua própria perspectiva sobre o que isso seja – e seus próprios interesses em fazer com que os outros acreditem que isso ou aquilo deva ser considerado interesse comum. Nesse sentido, a característica compartilhada por todos os sistemas coletivistas é a organização das atividades da sociedade em torno de um objetivo social definido. O comunismo, o fascismo e o nazismo poderiam, por exemplo, diferir entre si quanto ao objetivo que querem alcançar, mas convergiam no sentido de tentar organizar a sociedade inteira e seus recursos em torno dessa finalidade única – sempre imposta como a vontade do povo.
Vejam bem: a grande crítica à mentalidade revolucionária, que acompanha boa parte da esquerda, não está na validade da luta por justiça social ou por inclusão. Olhem para o feminismo, para a luta de negros contra o racismo, para os grupos de homossexuais que buscam assegurar seus direitos. Cada um desses movimentos tem, na sua essência, a busca pela valorização da autonomia dos indivíduos que querem e devem viver livres de ditames ou de preconceitos alheios. Essas lutas – assim como a luta pela superação da pobreza – podem ser travadas dentro das regras do jogo de instituições democráticas. O que se critica é a ideia de refundar uma sociedade, por meio de um projeto político, ou de um plano coletivo. O que se critica também é o aparelhamento a que militantes submetem as chamadas “lutas populares” ou de segmentos da sociedade, sejam os sindicatos, sejam as chamadas minorias. Por meio desse aparelhamento, tudo se converte, no fim das contas, em mero discurso ideológico, destinado a exaltar a igualdade como uma abstração e a exaltar um partido ou líder como único e legítimo porta-voz dos excluídos.
Diogo Ramos Coelho é diplomata e formado em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Dama de Ferro: Texto usa o filme sobre Margaret Thatcher para fazer uma reflexão sobre seu governo


A DAMA DE FERRO
Fonte: ultimosegundo.ig
Em um quarto escuro, uma idosa vestindo uma camisola de algodão tem mais uma de suas recorrentes alucinações, nas quais discute com o marido morto. Nervosa, ela recosta-se à porta e pronuncia uma frase que remonta a seus tempos de primeira-ministra do Reino Unido. "Tome as decisões difíceis e, sim, as pessoas vão odiá-la hoje, mas lhe agradecerão por gerações."
A cena, do filme “A Dama de Ferro”, que estreia nos cinemas do Brasil nesta sexta-feira, mostra a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, interpretada pela atriz Meryl Streep, já em estado de demência senil. A frase busca justificar as medidas controversas que tomou em seus 11 anos de governo (1979-1990), que, na avaliação de alguns políticos e especialistas, restauraram a grandeza e o prestígio britânicos, enquanto, na opinião de outros, deixaram o país mais vulnerável a crises econômicas.

Reprodução/ Margaret Thatcher Foundation
Ex-premiê britânica Margaret Thatcher (Foto de Arquivo)
Repercussão: Filme sobre Thatcher causa reações apaixonadas na Grã-Bretanha
“Nenhum político britânico no século 20 foi tão admirado quanto ela e ao mesmo tempo tão odiado”, afirmou ao iG Rodney Barker, professor emérito da London School of Economics.
Sob a premissa de que o mercado em vez do Estado pode servir melhor a sociedade, Thatcher adotou medidas que ajudaram a reviver o país e a colocá-lo em um caminho de recuperação após a crise dos anos 70, mas também abriram caminho para um desemprego massivo, o aumento da desigualdade social e a triplicação da pobreza infantil entre 1979 e 1995.
A transição no Reino Unido de uma economia industrial para uma economia financeira sujeita aos humores do mercado ocorreu sob a tutela de Thatcher. Houve redução da emissão monetária, elevação nas taxas de juros e abolição nos controles dos fluxos financeiros.
"Há o argumento de que as mudanças que causaram a desregulamentação da economia deixaram o Reino Unido extremamente vulnerável à crise financeira de 2008", afirmou a professora de História Moderna Britânica do King's College Eliza Filby. No entanto, a autora do livro “God and Mrs. Thatcher” (Deus e a Sra. Thatcher), que será publicado neste ano, acrescenta que há outros aspectos a ser considerados, como o enfraquecimento do capitalismo ocidental e a emergência de novas economias, como o Brasil, a China e a Índia.
Sob a bandeira neoliberal, Thatcher privatizou a habitação pública e gigantes estatais nos setores de siderurgia, telefonia, gás, água, eletricidade e de empresas aéreas. Seu combate à inflação surtiu efeito – o índice diminuiu de 18% em 1980 para 8,6% em 1982 –, mas a um custo.
A ex-premiê promoveu a redução drástica do gasto público, provocando um enfraquecimento generalizado do amparo do Estado, difundido no Reino Unido desde o fim da Segunda Guerra (1939-1945). Por exemplo, seu governo abandonou o compromisso com o pleno emprego, afirmando que isso era uma responsabilidade entre empregadores e empregados, sendo a prioridade governamental manter a inflação baixa.
O número de desempregados aumentou, chegando a uma média de 3,3 milhões em 1984, ou aproximadamente 6%. Em regiões mais afetadas pelas perdas industriais, como o norte irlandês, o desemprego chegou perto dos 20%.
Para Barker, Thatcher deixou um legado negativo para as gerações posteriores. Com sua ascensão política, houve o fortalecimento de um ideário cujas figuras centrais eram a iniciativa privada e o livre mercado, tirando do Estado o dever do planejamento e de assistência.
Segundo ele, seu ideário era tão forte que se estendeu até mesmo à linguagem da prestação de serviços, na qual todo o tipo de relação foi reduzido a uma troca comercial. De acordo com o professor, sob o chamado “thatcherismo”, todos se tornaram clientes de um mercado: um homem internado em um hospital não era um paciente, era um cliente; uma mulher em um trem não era uma passageira ou uma viajante, mas uma cliente. "Havia uma piada que dizia que se você ia à igreja, não era um fiel, mas sim um cliente de Deus", comentou.
Ainda assim, Thatcher elegeu-se por três vezes consecutivas, pois suas políticas, embora impopulares, responderam às urgências de um país em crise.
Acertos da Dama de Ferro
O professor de História Moderna do King’s College Richard Vinen aponta que, sob sua liderança, o Reino Unido se tornou um país mais rico, o setor privado se fortaleceu e a máquina estatal desinchou e perdeu custos.
Em grande parte, Thatcher se tornou premiê em 1979 por ser uma alternativa ao governo trabalhista anterior de James Callaghan (1976-1979), marcado por uma crise profunda e inflação que fizeram com que o Reino Unido recebesse a alcunha de “o homem doente da Europa”. Nessa época, uma onda de greves nos serviços públicos essenciais - até coveiros suspenderam suas atividades - destruiu a reputação do Estado de fazer uma gestão econômica prudente e de obter a cooperação dos sindicatos.
Quando assumiu, Thatcher reduziu o poder dos sindicatos e tornou severas as consequências para aqueles que participassem de greves. As medidas mais importantes nesse sentido foram tornar ilegais as greves sindicalizadas, obrigar o sindicato a escolher sua liderança por meio de uma eleição antes de uma greve e abolir o estabelecimento comercial que aderisse a qualquer movimento grevista.
No penúltimo ano de seu primeiro mandato, quando sua popularidade estava em um nível crítico por conta do desemprego, a Argentina invadiu as Ilhas Malvinas, reivindicando sua soberania sobre o território, que é de domínio britânico desde 1883. Com a vitória no conflito, Barker aponta que Thatcher foi capaz de devolver aos britânicos a autoconfiança e a identidade, abaladas pela crise no final da década de 1970, e assim conquistar sua primeira reeleição.
O carisma e poder de liderança de Thatcher deram aos britânicos a sensação de que o país voltava a ter força no cenário mundial. Mas, para Barker, há um aspecto perverso em devolver ao Reino Unido sua grandiosidade. "Ela deu a esse país uma ideia superestimada de que somos importantes. Que ainda temos de ser o que não somos. Que ainda temos de ter um Exército poderoso e armas nucleares.”
Imagem no exterior
Apesar da complexidade de sua imagem no cenário britânico, Thatcher tem uma posição estimada no restante do mundo – primeiro por ter colaborado com o fim da Guerra Fria (1947-1991) e também por ter sido a primeira premiê mulher do Reino Unido.

domingo, 7 de abril de 2013

O DIA EM QUE OS EUA PERDERAM QUATRO BOMBAS ATÔMICAS


As bombas atômicas que os EUA perderam na Espanha

Atualizado em  20 de janeiro, 2013 - 12:26 (Brasília) 14:26 GMT


Palomares ainda tem áreas cercadas cuja descontaminação não foi concluída
Em uma manhã ensolarada de 1966, dois jatos da Força Aérea americana colidiram e derrubaram quatro bombas nucleares perto do vilarejo de Palomares, no sul da Espanha. Não houve uma explosão nuclear, mas plutônio foi espalhado em uma área ampla. Quase cinco décadas depois, a Espanha pede aos Estados Unidos que termine a limpeza do local.
Os Estados Unidos chamam as bombas nucleares que se perdem de "Broken Arrows" (setas quebradas). No dia 17 de janeiro de 1966, Palomares recebeu quatro delas.
A 9.500 metros de altura, um bombardeiro americano B-52 colidiu com um avião-tanque KC-135 durante um serviço de reabastecimento aéreo de rotina e se rompeu. Três das bombas-H do bombardeiro caíram no entorno de Palomares, e uma quarta caiu a cinco quilômetros da costa, no Mediterrâneo.
O acidente não provocou nenhuma vítima em solo, mas os quatro ocupantes do avião-tanque e três dos sete ocupantes do B-52 morreram. Os demais conseguiram se ejetar e pousar com paraquedas.
Em 1966, Palomares não tinha água encanada e possuía apenas um telefone, mas os céus da região eram cruzados diariamente pelas máquinas de guerra mais modernas do mundo.
Era o auge da Guerra Fria. Em uma operação de codinome Chrome Dome (Cúpula de Cromo, em tradução livre), os Estados Unidos mantinham entre 12 e 24 bombardeiros B-52 no ar 24 horas por dia, em uma tentativa de conter um possível ataque soviético.
Havia diferentes rotas de voo para os B-52 em diferentes partes do mundo. O B-52 envolvido no acidente de Palomares estava voando na rota do sul, em um circuito a partir de sua base na Carolina do Norte e em volta do Mediterrâneo.
O avião-tanque havia partido de uma base próxima, na Espanha, para reabastecer o bombardeiro antes de seu retorno aos Estados Unidos.

Sem paraquedas



Marinha dos EUA fizeram uma grande operação de resgate para encontrar as bombas
O resultado do acidente poderia ter sido incomensuravelmente pior se as bombas estivessem armadas. Por sorte não estavam, por isso não houve explosão nuclear.
Em teoria, os paraquedas conectados às bombas deveriam ter ajudado a baixá-las suavemente ao chão, evitando qualquer contaminação. Mas dois dos paraquedas não abriram.
Poucos dias após a colisão, a praia de Palomares se tornou a base para uma grande operação militar envolvendo cerca de 700 homens da Força Aérea americana e cientistas.
O objetivo deles era encontrar as bombas e protegê-las.
As duas que caíram sem a proteção dos paraquedas se romperam com o impacto, espalhando poeira radioativa de plutônio altamente tóxica - um grande risco à saúde de qualquer um que a inalasse.
"O que eles decidiram fazer foi remover a sujeira contaminada das áreas mais contaminadas", conta a escritora Barbara Moran, autora do livroThe Day We Lost the H-Bomb ('O dia que Perdemos a Bomba-H').
Eles retiraram as três polegadas superiores do solo, fecharam a terra em barris e enviaram para um depósito nos Estados Unidos.
"Eles tinham um plano, mas foi desenvolvido para funcionar em um terreno plano ideal nos Estados Unidos, não em solo estrangeiro, onde ninguém falava inglês e havia agricultores e bodes circulando", comenta Moran.
Conforme o trabalho de limpeza avançava, as autoridades dos Estados Unidos e da Espanha tentavam convencer o mundo de que não havia perigo. O embaixador americano Biddie Duke até voou de Madri para a região para um mergulho no mar em frente às câmeras de TV.
Quando questionado por um repórter se havia detectado radioatividade na água, Duke respondeu com uma risada: "Se isso é radioatividade, eu adoro!".

Consternação



Embaixador americano foi mergulhar no local para mostrar que não havia riscos à saúde
As duas bombas rompidas e uma das que pousou com segurança foram localizadas em 24 horas. Mas houve uma grande consternação sobre a quarta, que caiu no mar e se tornou conhecida como a bomba-H "perdida".
A Marinha americana enviou mais de 20 embarcações, incluindo desmontadores de minas e submarinos, numa tentativa de encontrá-la.
"O desenho dessas bombas era um segredo máximo", diz Moran. "Quando eles estavam procurando, havia também navios espiões soviéticos circulando - e os soviéticos tinham tecnologia submarina", afirma.
Quatro meses depois, quando o trabalho de limpeza do solo estava terminando, a bomba perdida foi finalmente resgatada de uma profundidade de 869 metros. Barbara Moran diz que a Marinha americana calculou o custo total de suas buscas no mar em mais de US$ 10 milhões - a operação de resgate mais cara da história da Marinha americana até então.
Em Palomares, os Estados Unidos e a Espanha concordaram em financiar exames anuais nos moradores e monitorar o solo, a água, o ar e os cultivos locais.
Nunca houve evidências de que alguém tenha desenvolvido problemas de saúde em consequência do acidente. A água e os alimentos se mantêm limpos.
Quase todos já haviam se esquecido de Palomares, exceto os moradores da cidade. Segundo eles, a operação de limpeza americana esqueceu de algumas áreas de contaminação.

Plutônio latente



Moradores locais temem a publicidade negativa para a cidade quando caso é divulgado
José María Herrera é um jornalista local que vem investigando o acidente desde os anos 1980. Ao lado de uma encosta com vista para três áreas cercadas ainda contaminadas, ele aponta para uma cratera, onde uma das bombas caiu.
"Dá para extrair ao menos 200 gramas de plutônio daquele solo hoje", diz.
Na realidade, a quantidade real de plutônio ainda no local é difícil de ser determinada, porque os Estados Unidos nunca disseram quanto as bombas carregavam no início.
O pesquisador espanhol Carlos Sancho estima que entre 7 e 11 quilos do material acabou no solo. Mas Sancho, responsável pela região de Palomares no Departamento de Energia da Espanha, afirma que não há riscos à saúde.
"A terra não pode ser movida lá porque o plutônio está latente no solo", diz. "Se perturbarmos o solo, o plutônio pode ser dispersado."
Em Palomares, não se pode andar, plantar ou construir na área cercada. Os moradores locais reclamam de que a simples menção à história na mídia prejudica o turismo e que sem a publicidade negativa, Palomares poderia ser tão popular quanto sua vizinha mais famosa, Marbella.
A comunidade se sente presa. Se os moradores reclamam, o acidente volta às manchetes e há uma queda no número de visitantes e uma queda nos preços que os agricultores locais conseguem para sua produção.
O vice-prefeito da cidade, Juan José Pérez, diz esperar que a tragédia possa se converter em algo positivo e diz que gostaria de construir um museu para explicar como tudo aconteceu.
"Talvez até possa ter a forma de um bombardeiro B-52", diz. "Poderíamos oferecer caminhadas pelas áreas afetadas."
Mas afirma que para que isso ocorra, primeiro tem que haver um fim para a história. E para ele, esse fim adequado seria que os americanos voltassem e terminassem o trabalho de limpeza.
* The World é um coprodução de rádio do Serviço Mundial da BBC com a americana PRI e a emissora WGBH, de Boston.

sábado, 6 de abril de 2013

DARWIN NO BRASIL


Darwin no Brasil - Encanto com a natureza e choque com a escravidão (Scientific American Brasil)

Darwin no Brasil - Encanto com a natureza e choque com a escravidão
Na passagem pelo Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, Darwin descobre um mundo novo de sedução e horrores
por Ulisses Capozzoli
Desenho: © Cortesia do Sr. G. P. Putnam. O Correio da Unesco /Divulgação
Charles Darwin, em quem os críticos religiosos enxergaram um deturpador das revelações bíblicas, foi interpretado como o homem que verdadeiramente abriu as páginas do livro da criação, como sugere esta ilustração em bico de pena.
Em 27 de dezembro de 1831, depois de ser deslocado duas ou três vezes por ventos contrários, o HMS Beagle, um brigue com 10 canhões sob o comando do capitão Fitz-Roy deixou a localidade de Davenport, no sudoeste da Inglaterra, para uma viagem de quatro anos e nove meses ao redor do mundo. Um personagem, que a história tornaria o passageiro mais importante a bordo do Beagle, tinha pouco mais de 22 anos e havia sofrido alguns reveses profissionais antes de se envolver com a história natural. Charles Robert Darwin (Shrewsbury, 12 de fevereiro de 1809 – Downe, Kent, 19 de abril de 1882) cujo nome seria sinônimo de evolucionismo, ainda era um criacionista despreocupado quando o Atlântico se abriu à sua frente para a viagem que reformularia não apenas suas convicções pessoais, mas mudaria profundamente toda a história da ciência.

Darwin fez uma parada no arquipélago de Cabo Verde, onde registrou minuciosamente suas observações e se impressionou com o arquipélago de São Pedro e São Paulo, antes de passar por Fernando de Noronha. Mas foi no Rio de Janeiro, especialmente por uma incursão de alguns dias pelo interior, que pôde sentir a diversidade de Natureza que deveria conhecer antes de, inteiramente conta a vontade, tornar-se um evolucionista.

Em Viagens de um naturalista ao redor do mundo (Voyage of a naturalist round the world), onde faz um detalhado registro de sua longa exploração, Darwin dedica menos de dez páginas a Salvador, na Bahia, aonde chegou em 29 de fevereiro de 1833, para uma estada curta, mas já fascinado pela exuberância da natureza tropical.

Em 4 de abril o Beagle atracou no Rio de Janeiro e aí começaram as descobertas que, do ponto de vista natural, seduziram e encantaram o jovem naturalista, ainda que, do ponto de vista social tenham sido motivo de frustração, desencanto e, em alguns momentos, de completo horror.