sábado, 30 de março de 2013

STALIN - O SÁDICO


© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. Apoio. Eleitores do Partido Comunista marcharam com bandeiras de Stalin no Dia dos Trabalhadores, no ano passado, em Moscou. Foto: Mikhail Metzel / Mikhail Metzel/AP


Apoio. Eleitores do Partido Comunista marcharam com bandeiras de Stalin no Dia dos Trabalhadores, no ano passado, em Moscou. Mikhail Metzel / Mikhail Metzel/AP
BERLIM - Sessenta anos depois da morte de Josef Stalin, um livro escrito pelo historiador alemão Jörg Baberowski reabre o debate sobre um dos piores ditadores do século XX, responsável pela morte de seis a vinte milhões de pessoas. Em “Verbrannte Erde, Stalins Herrschaft der Gewalt” (ou “Terra queimada, o regime de violência de Stalin”), Baberowski, da Universidade Humboldt de Berlim, afirma que o ditador, morto em 1953, era um psicopata, um sádico, que não apenas mandava matar tendo em vista metas políticas.
- Ele ficava satisfeito ao ver o sofrimento das suas vítimas - diz Baberowski, lembrando que, se não tivesse sido um ditador, teria provavelmente se tornado um criminoso psicopata.
Ainda assim, seis décadas depois da sua morte e da revolução cultural iniciada por Nikita Kruschev, Stalin voltou a ser visto na Rússia como um herói nacional porque, segundo especialistas, representa a lembrança de uma era de apogeu, a época em que a União Soviética venceu o maior inimigo do mundo, o exército nazista de Adolf Hitler.
Se na Alemanha não há nenhuma dúvida sobre o papel de criminoso e de assassino das massas de Hitler, na Rússia Stalin continua dividindo opiniões. Depois dos anos de ostracismo, durante os governos de Mikhail Gorbachev e de Bóris Yeltsin, o antigo ditador voltou a ser venerado não só pelos comunistas, fora do poder desde 1991. Desde o início da era do presidente Vladimir Putin, em 2000, ele voltou a ter um papel mais heroico.
De acordo com o Centro de Pesquisa Lewada, de Moscou, 32% dos russos e moradores das antigas repúblicas soviéticas veem Stalin de uma forma negativa. No entanto, para 47% da população, Stalin teve um papel positivo, enquanto que 18% são ainda stalinistas convictos. A maioria vê o ditador não apenas como o homem que venceu Hitler, mas também como o responsável pela industrialização da União Soviética e por sua transformação em uma superpotência, diz a pesquisa.
Fundador de uma superpotência
De fato, os novos livros didáticos, reescritos por iniciativa do Kremlin, mostram Stalin como um “bom estadista” e “fundador de uma superpotência”. A “potência” deixou de existir com a desintegração da União Soviética, em 1991, mas a nostalgia das antigas dimensões do império ainda hoje une os russos. Outro sinal da divisão dos russos em relação a Stalin, que nasceu na cidade de Gori (hoje Geórgia), em 1879, como Josef Vissarionovitch Djugasvili, pode ser visto esta semana, período em que é lembrado o 60º aniversário de morte do ditador.
Enquanto Gennadi Zyuganov, chefe do partido comunista russo - o segundo maior no Parlamento, depois do “Rússia Unida”, do presidente Putin - falava sobre Stalin como “o estadista que tirou o império da crise”; Arseni Roginski, da ONG “Memorial”, lembrou que nada mais define Stalin do que a lembrança dos anos de 1937 e 1938, quando milhões de pessoas foram presas e 700 mil condenadas à morte.
- Se comparamos os piores ditadores do século XX, Adolf Hitler e Josef Stalin, podemos notar que Stalin tinha uma relação mais pessoal com a violência. Ele ficava satisfeito ao ver o sofrimento das suas vítimas, dos inimigos que mandava eliminar. Hitler foi igualmente um terrível ditador, claro, mandava também matar milhões, mas tinha uma relação mais distante com a violência. Não necessariamente gostava de ver as imagens - opina Baberowski.
O homem que, de 1924 a 1953, transformou a União Soviética em um “império da paranoia” não sabia mais, no final, diferenciar os amigos dos inimigos e mandava matar também os primeiros, porque estava sempre em busca de um novo alvo. Quando ele falava, precisava ser aplaudido por muito tempo. Se alguém, mesmo um aliado, parasse de aplaudir cedo demais, arriscava ser condenado à morte.
- Ele mandava matar as pessoas por banalidades e com isso mostrava aos que sobreviviam o que podia acontecer com aqueles que não aceitassem a submissão completa - diz Baberowski.
Quem, desde cedo, não aceitou as regras ditadas por Stalin foi Lew Bronstein, mais conhecido como Leon Trótsky, que se considerava herdeiro natural de Vladimir Lenin, mas perdeu a luta pelo poder contra seu adversário. Stalin tinha mais o apoio das pessoas simples, das aldeias, das minorias, dos que entendiam pouco do intelectualismo de Trótsky, que fugiu para o exílio, sendo assassinado no México.
Embora o chamado “trotskismo” tenha entrado para a História como o ideal do marxismo, Baberowski desfaz a ilusão de que Trótsky teria sido muito melhor do que Stalin. O que teria acontecido se Stalin tivesse perdido a luta pelo poder? Para Baberowski, Trótsky não teria sido um humanista, como muitos pensam, mas, acredita, tampouco seria um sádico, como Stalin.
- Com Trótsky à frente do PC soviético, o cenário teria sido também sangrento - defende. - Mas o terror teria sido menor no sentido de que Trótsky não teria tido a mesma paranoia que teve Stalin, que mandava matar também os adeptos e aliados.
Quando Stalin morreu, em 5 de março de 1953, mesmo as suas vítimas, os perseguidos que tinham voltado da guerra contra Hitler e tinham sido levados diretamente para os gulags, os campos de concentração soviéticos, reconheciam a importância da vitória da “grande guerra da pátria”, como a Segundo Guerra é chamada.
Em pouco tempo, no entanto, as pessoas mudaram de opinião sobre Stalin. Quando seu sucessor, Nikita Kruschev mandou abrir os arquivos do stalinismo, assumindo a sua própria responsabilidade por alguns dos crimes cometidos, um clima de primavera, de revolução cultural, tomou conta da União Soviética. Quem divergia do regime, não era mais executado, mas apenas “aposentado”. No plano cultural, começaram a acontecer coisas impensáveis durante o domínio de Stalin.
A sociedade estava traumatizada, mas começava, lentamente, a gozar das novas liberdades, como assistir a uma exposição de quadros de Pablo Picasso, o que antes era proibido, ou a um concerto de jazz de uma banda americana. E o livro de Alexander Soljenítsin, prêmio Nobel de Literatura de 1970, pode ser publicado no país, em 1962.
Os ventos amenos da primavera soviética sob Kruschev terminaram bruscamente em 1964. A crise de abastecimento, os problemas econômicos e a expansão do movimento dos dissidentes fizeram com que os comunistas fundamentalistas, liderados por Leonid Brejnev, assumissem o poder em 1964. Com Brejnev, terminou o processo de prestação de contas com a era sombria do stalinismo. Hoje, embora não negue os crimes do stalinismo, o Kremlin procura enfatizar o lado positivo de Stalin como o herói da Segunda Guerra.m http://oglobo.globo.com/ciencia/stalin-considerado-como-sadico-mas-adorado-por-boa-parte-dos-russos-7984691#ixzz2P4C079kx

segunda-feira, 25 de março de 2013





Segundo artigo do Human Sciences Reserch, megaevento de 1994 nos Estados Unidos gerou prejuízo entre $5,5 e $ 9,3 bilhões de dólares para as cidades sede
Preocupado com o rumo que os preparativos para Copa do Mundo no Brasil em 2014 têm tomado, o jornalista e documentarista Rudi Boon – autor do documentário “A FIFA manda” sobre a Copa de 2010 na África do Sul, que o Copa Pública mostrou aqui- nos mandou uma série de estudos e documentos sobre os impactos dos megaeventos nos países onde ocorreraram. O primeiro, “Megaeventos como resposta para a Redução da Pobreza: A Copa de 2010 da FIFA e suas implicações no desenvolvimento da África do Sul” que apresentamos hoje, foi realizado por pesquisadores do instituto sul-africano Human Sciences Reserch (Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas), na época em que o país se preparava para receber a Copa de 2010. Baseando-se na documentação de outros pesquisadores a respeito do legado da Copa em alguns países, o artigo defende que é praticamente impossível que a pobreza seja reduzida com a chegada de um grande evento e que os benefícios propagandeados pelos governos como projetos de mobilidade urbana e aumento do número de empregos são pouco funcionais, efêmeros e concentrados em pequenas áreas, e que muitas vezes acabam gerando crises e prejuízos ainda maiores para os países anfitriões. O exemplo mais chocante usado no texto, citando um estudo recente feito por Robert Baade & Victor Mathesondois, pesquisadores americanos, talvez seja o da copa de 1994 nos Estados Unidos, que teria gerado um prejuízo entre $5,5 e $ 9,3 bilhões de dólares para as cidades sede, ao invés do lucro estimado em 4 bilhões.

Expectativa

O texto começa explicando que o anúncio da Copa na África do Sul gerou muita expectativa, já que seria o primeiro grande evento em todo o continente. Na época, o presidente Thabo Mbeki, anunciou que aquele não seria apenas um evento sul-africano mas de toda a África. Além disso, o país passava por um momento de reconstrução e a Copa seria o “empurrãozinho” que faltava para o investimento no crescimento das cidades. Já nesta introdução, os autores alertam que em muitos países que receberam o megaevento, o que se viu como consequência da passagem da FIFA foram graves crises para as economias nacionais, geradas pelo grande volume de investimentos estatais – exatamente como está sendo feito no Brasil, como o ministro do TCU admite nesta entrevista. A preocupação dos pesquisadores, no caso da África do Sul, era com um crescimento muito rápido porém desordenado e desigual. Havia na época expectativa de crescimento de 65% em cinco anos, porém apenas nas cidades com maior concentração  de PIB e ainda assim de forma díspare, com muitos investimentos em áreas nobres e poucos investimentos nas áreas pobres. Isto também já pode ser visto no Brasil, como mostram os dossiês “Mega-eventos e violações de Direitos Humanos no Brasil” e Megaeventos e violações dos direitos humanos no Rio de Janeiro”
Megaeventos são frequentemente usados como instrumentos do poder hegemônico  ou como demonstrações de ‘ufanismo’ urbano pelas elites econômicas, casados com uma visão tacanha do crescimento das cidade 
Desta forma, afirmam os pesquisadores, este crescimento é colocado como um “desafio”, pouco importanto se o país ou as cidades sede têm de fato a possibilidade de investir tanto em um megaevento.
As promessas feitas para a África do Sul também eram muito parecidas com as feitas por aqui, segundo o documento: “Em primeiro lugar, o megaevento é colocado como um catalisador para melhorar a condição de vida das pessoas historicamente desfavorecidas. Sugere um novo sistema de transporte público e uma agenda significativa de desenvolvimento, com promessas de geração de emprego”.
O que se viu, segundo esta entrevista com Eddie Cottle, autor do livro “Copa do Mundo da África do Sul: um legado para quem?” foi bem diferente disso: “O número de postos de trabalho foi estimado em 695.000 para os períodos pré e durante a Copa do Mundo. E o que aconteceu na realidade? No segundo trimestre de 2010, as taxas de empregabilidade diminuíram em 4,7%, ou seja, perdemos 627.000 postos de trabalho. No setor da construção civil, onde se tinha a sensação de que os ‘bons tempos’ seriam sentidos por todos, o emprego diminuiu 7,1% (ou 54.000 postos de trabalho) neste período. Na verdade, o ano de 2010 testemunhou com menos 111.000 postos de emprego na construção”

Outras Copas

O texto coloca que um dos pontos mais criticos em sediar um megaevento é a dívida que se cria ao deslocar recursos públicos que iriam para necessidades básicas das cidades – como saneamento, transporte público, educação, etc. – para estádios e obras específicas de mobilidade. Como exemplo, usa a Copa de 1994 nos Estados Unidos: “Estudos mostram que ao invés do lucro de 4 bilhões esperados com o megaevento, as cidades sofreram perdas que variaram entre $ 5,5 e $ 9,3 bilhões”. E continua: “Em Barcelona, o que se viu depois das Olimpíadas de 1992, foi um aumento significativo do custo de vida [de 20%, segundo pesquisa da Universidade Autônoma de Barcelona]. A cidade também sofreu com o desemprego, porque foram criados muitos postos temporários, com baixos salários. Com o fim do evento, havia uma massa de desempregados. Nas Olimpíadas de Montreal (1976) além do desemprego, a cidade sofreu com o corte de investimentos em áreas essenciais. Com isso sofrem os pobres, que são os que menos aproveitam os megaeventos”. Em Atlanta, após as Olimpíadas de 1996, o que ficou, segundo o artigo, foi um projeto de mobilidade urbana que não ajudou os cidadãos
Fornecer festivais quando as pessoas precisam de pão é um uso duvidoso de recursos públicos

Despejos

“Estima-se que as Olimpíadas de 1988 em Seul resultou no despejo de 700.000 pessoas. Para os Jogos Olímpicos de Pequim, 300.000 foram expulsos de suas casas” diz o artigo. Em 2010, a ONU também fez um levantamento a respeito destes despejos, como a relatora especial da ONU para a moradia adequada, Raquel Rolnik, escreveu em seu blog em 2010: “Em Seul, em 1988, a Olimpíada afetou 15% da população, que teve de buscar novos locais para morar – 48 mil edifícios foram destruídos. Em Barcelona, em 1992, 200 famílias foram expulsas para a construção de novas estradas. Em Pequim, a ONU admite que 1,5 milhão de pessoas foram removidas de suas casas. A expulsão chegou a ocorrer em plena madrugada. Moradores que se opunham foram presos”.

Dinheiro público, beneficio privado

No Japão, estádios e espaços construídos com dinheiro público para a Copa do Mundo de 1992 foram parar nas mãos da indústria do entretenimento, que hoje os usa para espetáculos e jogos privados com ingressos caros, segundo o documento. Caso semelhante aconteceu no Rio de Janeiro: criada para sediar jogos do Pan-americano de 2007, a Arena Olímpica, que depois foi renomeada de HSBC Arena, hoje é administrado pelo HSBC e sedia eventos e espetáculos de empresas privadas.

Migração e desemprego

Para os pesquisadores, com pouco ou nenhum recurso sendo destinado às cidades que não sediarão os jogos, muitos migram destes lugares, atrás da oferta de empregos temporários gerados pelos megaeventos. Quando o trabalho temporário acaba, estas pessoas tendem a não voltar para suas cidades de origem, engrossando a massa de desempregados nas cidades. Este processo é agravado pelo aumento do custo de vida e pelos baixíssimos salários, que muitas vezes não permitem que estas pessoas voltem as cidades de origem

fONTE: www.apublica.org

quinta-feira, 14 de março de 2013

O EXÉRCITO DE CRISTO

BREVE HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS





Em 1534, o cavaleiro espanhol Inácio de Loyola criou a Companhia de Jesus, com o objetivo principal de combater o protestantismo através do ensino religioso dirigido, e a influência crescente das reformas que cada vez mais preocupava a Igreja católica e a aristocracia européia.
A Companhia de Jesus não era uma ordem religiosa como as outras, seus combativos integrantes tinha uma organização quase militar: consideravam-se soldados da Igreja e achavam que deviam infiltrar-se em todas as atividades sociais e culturais, a fim de eliminar aqueles que pusessem em risco os princípios do catolicismo, e no dia 27 de setembro de 1540, a Companhia de Jesus recebeu a aprovação oficial do Papa Paulo III, na bula Regimini Militantis ecclesiae, aonde os seus membros deviam presar voto especial de obedência ao sumo pontífice e dependiam diretamente dele, a companhia era dividida, em províncias que, agrupadas de acordo com critérios geográficos e linguísticos, aonde os superiores de cada província governavam todas as casas, que tinha seu próprio superior, que nos colégios denominava-se como reitor, e o supremo poder da companhia pertencia ao superior-geral eleito pela congregação geral que era formada pelos delegados das diversas provincías, e da formação dos jesuítas fazem parte estudos de religião, línguas, humanidades, leis e medicina.
Mas a divisão da Companhia Ad Majorem Dei Gloriam (Para a Maior Glória de Deus) — mostra a intensidade de seu apostolado. Além de sua intensa atividade na Inquisição e na luta contra o protestantismo, sobretudo na Itália e na Espanha, tinham o ensino em colégios (o curso secundário autônomo foi criado pelos jesuítas) e universidades, aonde os religiosos consagravam-se pelas pregações, direção de retiros espirituais, pesquisas exegéticas e teológicas, missões, etc. mais a principal tareja dos religiosos foi evangelizar os indígenas das regiões recém-descobertas.
A Companhia de Jesus, chegou ao Brasil em Março de 1549 com o primeiro contingente de Jesuítas, formado pelos padres Manuel da Nóbrega, Leonardo Nunes, João de Azpilcueta Navarro, Antônio Pires e mais os irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jácome, que acompanhando Tomé de Sousa, primeiro Governador Geral do Brasil, que aportaram na Bahia, onde se fundaria a nova cidade, chamada do Salvador... e fundaram a Província do Brasil da Companhia de Jesus, que passou a ser a sede e cabeça da Ordem Inaciana na América Portuguesa e perto da Câmara Municipal os padres da Companhia escolheram um lugar para construir seu colégio, em um terreiro, que por causa deles, passou a ser chamado de Terreiro de Jesus, nome que até hoje conserva e que passou a ser o ponto central da antiga cidade e fundaram uma igreja de taipa coberta de palha que dedicaram a Nossa Senhora da Ajuda, além de outras precárias instalações iniciais, as quais foram sucessivamente sendo reconstruídas e ampliadas, esta igreja, a primeira dos Jesuítas no Brasil, foi cedida posteriormente ao clero secular. A igreja atual foi construída no mesmo local, em 1914 e nela esta o púlpito onde o Padre Antônio Vieira pregou o famoso Sermão contra a Holanda. Finalmente em 1572, o então Governador Geral , Mem de Sá , inaugurou a igreja, de pedra e cal, que foi concluída em 1585.
O objetivo dos Jesuítas no Brasil era a catequese de adultos e através da educação, a catequese das crianças e jovens, e no primeiro século de colonização apenas três colégios foram criados no Brasil que foram o colégio da Bahia, que dispunha de uma notável biblioteca, que mesmo tendo sido desfalcada pelos holandeses, no final do século XVII contava com cerca de 3000 livros o colégio do Rio de Janeiro e o de Pernambuco, nos colégios, além das dependências internas de uso privativo possuiam celas, cozinha, copa, refeitório, oficinas também havia horta e pomar, e ainda farmácia (botica), biblioteca e enfermaria, que atendiam também ao público externo, os colégios da Companhia transmitiam uma cultura humanística de caráter acentuadamente retórico, que, se de um lado atendia aos interesses da Igreja, atendia também, às exigências do patriarcado de cana de açúcar, assim, os mais importantes intelectuais da Colônia estudaram nestes colégios como Bento Teixeira, Frei Vicente do Salvador, Gregório de Matos Guerra, Basílio da Gama, Alvarenga Peixoto e outros mais, e a grande importância que a Companhia de Jesus dava para a cultura colonial foi a causa da fundação dos colégios de São Vicente, por Leonardo Nunes, e o de Salvador, por Nóbrega. Logo, acompanhando a expansão dos trabalhos de catequese entre 1548 e 1604 quando cerca de 28 expedições de missionários foram enviadas à colônia, uma vasta rede de colégios espraiou-se pelo nosso litoral: São Paulo (1554), Rio de Janeiro (1568), Olinda (1576), Ilhéus (1604), Recife (1655), São Luís, Paraíba, Santos, Belém, Alcântara (1716), Vigia (1731), Paranaguá (1738), Desterro (1750), "Nas aldeias, vilas e cidades, as escolas intitulavam-se 'de ler, escrever, e contar'; e nos colégios, o mestre ora se chamava 'Alphabetarius' (1615), ora 'Ludi-Magister' (mestre-escola), e umas vezes se dizia 'Escola de Rudimentos', outras 'Escola Elementar', estava aberta durante cinco horas diárias, repartidas em duas partes iguais, metade de manhã, metade de tarde." A organização do ensino jesuítico baseava-se no Ratio Studiorum, que, ao mesmo tempo em que era um estatuto e o nome de seu sistema de ensino, estabelecia o currículo, a orientação e a administração. O currículo dividia-se em duas seções distintas (inferiores e superiores), chamadas classes, de onde derivou a denominação "clássico" a tudo o que dissesse respeito à cultura de autores greco-latinos. As classes inferiores, com duração de 6 anos, compunham-se de Retórica, Humanidades, Gramática. Já as superiores, com duração de 3 anos, compreendiam os estudos gerais de Filosofia, para a época, abrangendo Lógica, Moral, Física, Metafísica e Matemática. Tanto num grau como no outro todo estudo era vazado no Latim e Grego e no Vernáculo. O ensino jesuítico, tanto em Portugal quanto no Brasil, era público e gratuito.
A Companhia tinha mesmo como dever o cumprimento do voto de pobreza, que foi reafirmado por uma determinação oficial de 1556, proibindo aos padres acrescentar qualquer forma de poder material ao religioso. No Brasil, porém, dado não haver um amparo direto da Coroa, como acontecia em Portugal, impôs-se a necessidade de encontrar fontes de recursos para a manutenção de suas instituições. Já o Padre Manuel da Nóbrega utilizara-se deste pretexto perante o delegado da Companhia no Brasil, Luís da Grã, a fim de permitir o estabelecimento de propriedades territoriais, inclusive com a utilização do braço escravo, em contradição com o voto de pobreza. Isso não se restringiu à Companhia de Jesus; o interesse pela propriedade, escravos e bens materiais foi comum às outras ordens religiosas que para cá vieram. tal fato não deixou de preocupar a Coroa, e neste sentido foi que D. Sebastião, a fim de melhorar a situação, instituiu, em 1564, uma taxa especial para a Companhia, a redízima, descontada sobre todos os dízimos e direitos da Coroa. Mesmo assim, isso não era suficiente para arcar com as despesas, sustentadas, sem dúvida, através das fontes próprias de subsistência: as missões, verdadeiras empresas agro-extrativas da Companhia, os colégios ou suas próprias propriedades particulares, e menos de cinqüenta anos depois da chegada ao Brasil os jesuitas já haviam se espalhado pelo litoral, de norte a sul, com muitas incursões, não ficavam apenas nas cidades ou vilas principais, ao contrário, embrenhavam-se pelos sertões, desbravando os matos em busca dos índios, que eram então reunidos em aldeias de três tipos: as dos Colégios, as de El-Rei e as de Repartição, as quais forneciam índios para a própria Companhia, para o Rei e para particulares, respectivamente. Havia também as Missões, ou grandes aldeamentos, situadas em terras mais distantes, nos "sertões, nas brenhas e nas selvas". de onde saíram as levas de soldados para seus exércitos e após duzentos e dez anos no Brasil e ao longo deste período expandiram seus estabelecimentos e seus trabalhos desde o Amazonas até aos limites extremos do sul do Brasil quando acabaram sendo banidos dos territórios portugueses em 1759.
Do ponto de vista arquitetônico, as principais cidades coloniais brasileiras os religioso estabeleceram suas igrejas, conventos, mosteiros e colégios que ocuparam o lugar de maior destaque, e suas obras entre todas, são as mais significativas nos núcleos primitivos das cidades. e no contexto urbano da Cidade de Salvador, o conjunto arquitetônico dos estabelecimentos da Companhia de Jesus - Igreja, Colégio e Convento - impõe-se e ultrapassa as dimensões das demais construções religiosas, quer dos Franciscanos, dos Carmelitas ou dos Beneditinos, e por sua grandeza, hoje a antiga Igreja dos Jesuítas é a Catedral Basílica da Cidade do Salvador, e o antigo colégio e a maior parte das dependências restantes das antigas construções inacianas abrigam museus e estão sob a guarda da Universidade Federal da Bahia. e por meio dessas imponentes expressões arquitetônicas, e também através das casas, das aldeias e das missões jesuíticas, irradiava-se toda a vida cultural da colônia, e foi a ideologia dos inacianos a responsável, de maneira absolutamente marcante, pela formação e produção intelectual do Brasil nos primeiros séculos, quer na literatura, na poesia, na escultura, na arquitetura, no teatro quer na música.
Fonte: www.geocities.com

domingo, 10 de março de 2013


10/03/2013 - 06h05

Moradores decidem status das Malvinas

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SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Quando forem às urnas, hoje e amanhã, os habitantes das ilhas Malvinas (Falklands, para os britânicos) esperam colocar um ponto final em uma celeuma que começou há 180 anos.
Em 1833, uma embarcação inglesa chegou ao arquipélago e expulsou a população local, formada por pessoas de distintas nacionalidades, além da administração argentina do território.
As Malvinas passaram a ser habitadas predominantemente por europeus, principalmente ingleses, dedicados à produção de lã, agricultura e, posteriormente, à pesca.
A Argentina não se conformou e passou a reivindicar com veemência o retorno da soberania das ilhas.
A disputa entre Argentina e Reino Unido teve seu ponto crucial e sangrento na guerra de 1982. O conflito, que durou 72 dias e deixou mais de 900 mortos, terminou com a vitória britânica.
No país vizinho, a derrota apressou o fim da ditadura militar, mas deixou uma chaga aberta no orgulho nacional.
No plebiscito, os "kelpers" (como são conhecidos os habitantes das ilhas) responderão à pergunta: "Você deseja que as ilhas Falklands conservem seu status político atual como um território ultramar do Reino Unido?".
A expectativa é que mais de 95% da população responda que "sim". Vivem nas Malvinas 676 nativos, 2.256 europeus, 200 chilenos e 29 argentinos. A minoria sul-americana tem nacionalidade britânica e, em geral, também opina a favor do atual status do arquipélago.
"A principal razão é a reafirmação de nossa vontade, mas o referendo também servirá para dizermos outras coisas ao mundo: que queremos ser bons vizinhos, que gostaríamos de ser reconhecidos como nação e que desejamos diálogo com quem queira fazer negócios conosco", diz Jan Cheek, membro da Assembleia Nacional das Falklands.
ECONOMIA
As ilhas possuem hoje o maior PIB per capita da América Latina (US$ 52 mil). A principalatividade é a pesca, que responde por 60% do PIB e rende US$ 40 milhões por ano à ilha. A segunda principal atividade é o turismo, com mais de 80 mil pessoas visitando o local todos os anos.
O governo argentino, porém, não reconhece a existência e a vontade dos "kelpers". Em fevereiro, durante visita a Londres, o chanceler Héctor Timerman recusou-se a encontrar seu par britânico, William Hague, porque este exigia a presença de dois representantes do governo das Falklands na reunião. Cheek era um deles.
"Nós queríamos conversar com Timerman. Temos oportunidades a oferecer à Argentina, que precisa entender que não pode mais falar sobre nosso território por cima de nossas cabeças", disse.
Já o chanceler se mantém duro e é o principal divulgador da posição argentina.
"As ilhas serão nossas em 20 anos", disse, em entrevista ao jornal "The Guardian", além de afirmar que não poderia reconhecer o referendo "kelper" porque seria "o mesmo que perguntar aos colonos judeus se eles gostariam de permanecer como cidadãos de Israel".
A Argentina reivindica que seja cumprida uma determinação de 1965 da ONU que pede que os dois países se sentem para dialogar. Já os britânicos e os habitantes das ilhas asseguram que não há nada do que falar e que a Argentina precisa respeitar seu direito à autodeterminação.
"Nunca achamos que era necessário fazer um referendo com essa pergunta, mas o comportamento do governo argentino nos últimos tempos nos obriga a isso", diz Cheek.
'QUESTÃO DE ESTADO'
A Argentina, que nos anos 90, sob a gestão Carlos Menem, havia feito acordos de aproximação com a população das ilhas, mudou radicalmente de posição com o kirchnerismo.
Tanto o antecessor de Cristina, Néstor (1950-2010), como a atual presidente aumentaram o volume das reivindicações argentinas. No discurso de abertura do Congresso argentino, há duas semanas, Cristina disse que a soberania das Malvinas era uma "questão de Estado".
A presidente ainda tem evocado a reclamação argentina em fóruns mundiais. Em 2011, conseguiu o apoio dos países do Mercosul e arregimentou em sua batalha verbal alguns ídolos do rock e do cinema, como o ator norte-americano Sean Penn e os roqueiros britânicos Roger Waters e Morrissey (ex-Smiths).
A votação ocorrerá em dois dias para ter "a certeza de que todos votarão", diz Cheek.
Nas ruas, haverá festa com apresentação de grupos de música. As crianças vêm discutindo o plebiscito nas aulas, e Port Stanley, a capital do arquipélago, está enfeitada com bandeiras britânicas.
Na Argentina, a imprensa interpreta de forma política o plebiscito.
O triunfo previsível do "sim" está sendo visto como uma derrota do governo, enquanto os meios kirchneristas ressaltam os argumentos de Cristina e o discurso nacionalista.

Publicado em: Folha de São Paulo, 10/03/2013